Veja abaixo o discurso que fiz na Tribuna da Alerj:
Sr. Presidente, Srs. Deputados, funcionários e telespectadores da TV Alerj, a partir de quarta-feira de Cinzas, mais uma vez a igreja católica chama para uma reflexão durante os quarenta dias da Quaresma. É uma tradição a criação da Campanha da Fraternidade, momento especial para todos os cristãos, mas especialmente neste ano a campanha ganha uma força maior, porque está sendo fortificada do ponto de vista ecumênico.
O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, através de sugestões colhidas das diversas igrejas, que são membros do Conselho, resolveu que em 2010 a Campanha da Fraternidade deveria ter o tema “Economia e Vida” e o lema: “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”, como está escrito em Mateus 6:24 e seguintes.
O objetivo geral desta Campanha é unir igrejas cristãs e pessoas de boa vontade na promoção de uma economia a serviço da vida sem exclusões, criando uma cultura de solidariedade e paz. E os objetivos específicos, a serem trabalhados em quatro níveis: social, eclesial, comunitário e pessoal. A metodologia usada, como sempre, é o “ver, julgar e agir”.
Esse tema é muito realista, muito interessante para todos nós debatermos, mesmo as pessoas que professam outras crenças não consideradas cristãs, e é muito importante refletirmos.
Estamos numa economia capitalista. O mundo vive essa economia e já mostrou não ser boa para todos os seres humanos, pois está comprovado que para existir é necessário ter um grupo dos mais ricos e um grupo muito maior de mais pobres, de miseráveis até. E é isso o que as igrejas cristãs do Brasil chamam para essa reflexão: não se pode servir a dois senhores, não se pode servir a Deus e ao dinheiro. Vamos descartar o dinheiro? Impossível, impossível! “Saco vazio não para em pé”, diz o ditado popular; corpo e estomago vazio também não vive. Mas qual a finalidade que estamos dando ao dinheiro? É para suprir as nossas necessidades ou para explorar cada vez mais o semelhante?
Então, eu penso que este tema da Campanha da Fraternidade é muito forte e remete na metodologia, como foi falado: ver, ver a realidade que nós vivemos; julgar, através dos ensinamentos bíblicos e agir, mudando a nossa forma de ação cotidiana no dia a dia, que começa nas atitudes pessoais, que vão para as atitudes sociais e políticas, o que convoca essa Campanha da Fraternidade é que nós devemos construir uma nova economia. Alguns dirão: uma economia socialista, eu acredito que uma economia socialista será muito melhor para todos os seres humanos do que a capitalista, mas tem gente que não acredita no socialismo, mesmo esses são convidados a refletir sobre o assunto e a pensar numa nova economia mais includente, que inclua mais as pessoas, que deem mais oportunidades às pessoas, homens e mulheres, olhando a diversidade que existe na nossa população. Não somos uma massa única, somos formados de homens e mulheres e existem especificidades de cada gênero e existem políticas públicas específicas de cada gênero para que cada um se sinta incluído nesta sociedade. A campanha também chama a atenção para a questão ambiental, porque também não dá para você pensar no desenvolvimento, no dinheiro, na economia, sem pensar no ambiente.
Nós vivemos no ano passado uma crise econômica mundial. Os Estados Unidos, que eram o máximo da economia capitalista, caíram. Ainda hoje, no exterior, países considerados em ritmo frenético de desenvolvimento, estão sentindo o peso do desemprego, o peso da recessão. Então, essa economia tem os pés de barro e é preciso, sim, construir uma nova economia, cristãos e não-cristãos, devemos pensar sim a possibilidade e a construção de uma nova economia brasileira, mas não só porque o mundo é globalizado, mas uma nova economia mundial.
Eu venho aqui chamar a atenção, Sr. Presidente, terminando as minhas palavras, sobre a economia solidária, que é uma nova forma de se organizar, mesmo que dentro da economia capitalista; e nós da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, já fizemos aqui na Assembleia audiências públicas a respeito às mulheres na economia solidária, já apresentamos projetos de lei criando o programa de fomento à economia solidária no nosso Estado, e esta Casa, com assinatura de muitos Deputados, aprovou e depois derrubou o veto do Governador, criando o Conselho Estadual de Economia Solidária; no entanto esse Conselho ainda não foi implementado.
Seria bom aproveitar essa oportunidade da reflexão da Campanha da Fraternidade - chamo a atenção do Governo do Estado - para implantar o Conselho Estadual de Economia Solidária. E, nessa audiência pública foi chamada uma atenção, Sr. Presidente. Em todas as capitais brasileiras existe um centro de artesanato, onde a economia popular, solidária, artesanal, possa ali expor os seus produtos e vender, gerar renda. A nossa capital do Estado, a cidade do Rio de Janeiro não possui um centro assim.
Estão para iniciar a Copa do Mundo, as Olimpíadas, muitos turistas estarão visitando a nossa cidade, existem algumas feiras artesanais, que mudam de local, mas não tem um centro de economia, de artesanato local, do Rio de Janeiro, ou que possam contemplar a variedade tão grande de artistas espalhados pelo nosso Estado.
É mais uma luta que a economia solidária está travando, e eu pessoalmente, o meu mandato, e a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, pretende trabalhar junto com o movimento da economia solidária para isso ser concretizado, ou seja, ser concretizado o Conselho Estadual e ter também a implantação de um centro de economia local, artesanal, solidária, na cidade do Rio de Janeiro. É só isso, Sr. Presidente.
Muito obrigada.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
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