SEM NEM PENSAR
Sou descendente de portugueses e espanhóis, mas não sei porque Portugal nunca esteve na minha lista prioritária de visitas, no entanto, aqui estou eu, no dia 2 de janeiro de 2013, ás 19 horas e trinta e sete minutos, dentro do avião da TAP sobrevoando Petrolina com destino ao Porto e escala em Lisboa.
Bom, conto então agora os motivos desta viagem. Minha sobrinha Luciana, (nascida em Volta Redonda, mas mineira com certeza) dando vários e vários rolés pela internet acabou fazendo amizades com os gajos. Um deles de codinome "Amigo Zezinho" lhe chamou especial atenção. Os diversos e-mais acrescentou-se a diversos skipes, horas e horas na internet, namoro virtual, visita e casamento, isto mesmo! Em maio de 2011 fui convidada novamente a ser madrinha, agora do casamento de Luciana e Davide na cidade de Cataguases, minha terra natal. Para as bodas vieram os pais, dona Iracema e seu Elídio, muito divertidos e simpáticos, passaram uns dias pelo Brasil e eu pude acompanhá-los junto com minha irmã Lourdinha (que eu chamo de Broto) ao Rio. Faltava agora uma visita dos recém-casados aos sogros e cunhados e com a companhia da minha irmã a viagem ficou marcada para final de dezembro de 2012. Tive que declinar do convite, pois estava concorrendo a prefeitura de Barra Mansa no Sul do Estado do Rio. Terminada as eleições, sem obter êxito e de recesso no legislativo estadual, aceitei o convite, só esperei o dia primeiro para participar das posses dos prefeitos eleitos e como já disse, cá estou eu no vôo da TAP rumo a Cidade do Porto. De última hora só conseguimos passagem com escala em Brasília (4 horas de espera) e Lisboa, para depois chegar ao Porto. Como saímos de Barra Mansa ás 8h e a previsão de chegarmos ao Porto é ás 8:30 teremos no total mais de 24 h de viagem. É mole?
A turbulência parou e começaram a servir o jantar, bem brasileiro por sinal - escondindinho de carne seca. Depois de jantar, assistir o filme "Até que a Sorte nos Separe" e virar por muitas vezes na cadeira sem posição, o sono me pegou e só acordei com as luzes novamente acesas para servir o café da manhã, estávamos chegando a Lisboa ás 5:45 da manhã, um pouco mais cedo que a previsão. O Momento agora é enfrentar a fila enorme da alfândega e esperar o vôo para a cidade do Porto que saiu ás 7:30.
O irmão de Davide, Joca, emprestou o carro (carrinha prá eles) de sete lugares para nossa acomodação e assim fomos para a cidade (freguesia) de Vila Nova de Famalicão. Em casa, uma vivenda bonita com um quintal não muito grande onde tem criação de galinha, plantação de couve, laranja, limão, flores e abóbora gigante, um cantinho muito agradável. Dona Iracema e seu Elídio, sempre muito alegres e solícitos nos serviu um café com muitas guloseimas a ponto de não sabermos o que deveríamos comer. Depois de 25 horas em ação, só nos restou esticar numa cama e dormir um pouco.
SEM PREOCUPAÇÃO
Depois do soninho, o almoço veio com as tradicionais sardinhas assadas e salmão grelhado com batatas, perfumando toda a casa e estimulando nossa fome, mesmo depois daquele café suculento.
Por telefone soubemos que a minha mala foi entregue depois das 23 horas em Vila Nova de Famalicão, coitados da dona Iracema e seu Elídio que tiveram que recebê-la tão tarde.
Até então não havíamos almoçado, só andado. Fomos então ao shopping estação, que fica do lado da mesma e comemos salada de entrada e pizza Hutt, interessante como serviram a salada em taças grandes de sorvete ou gelato, como dizem (vou servir assim lá em casa, muito chique).
Nós, que tínhamos colocado todas as bolsas no carro, resolvemos mais uma vez voltar a " Povoa do Vazim " , mas antes passamos no mercado. Davide comprou camarões cozidos e gelados e comemos no apartamento com vinho e cerveja, é lógico que o nosso, mulheres brasileiras, foi esquentado no Micro-ondas.
DIA DE REIS
Chegamos apressados na Igreja Santiago de Anta em Famalicão para a missa dos Reis. A igreja de porte médio estava tão lotada que haviam pessoas do lado de fora, fomos assistir a missa na sacristia. Gostei da homilia do pároco local Francisco Alves que comparou a postura das pessoas encontradas pelos Reis Magos as posturas hoje encontradas nas pessoas: aquelas que estão desligadas, não estão atentas as manifestações de Deus, assim como aquelas que viviam na época em Belém e nem sabiam que o Rei dos Reis havia nascido e aquelas que procuram e segue a estrela, a luz, assim como os Reis que seguiram a estrela e encontraram Jesus. Só não concordei com a parte que ele falou das outras religiões não regulamentadas, não consideradas por ele como manifestações de Deus, eu penso ao contrário, a manifestação de Deus não tem cerca e seu Espírito manifesta onde Ele quer. Ao final houve o beijo ao menino Jesus no altar, fogos e música do lado de fora e ficamos conversando com amigos de Davide.
Saindo da Igreja fomos dar uma volta pelo centro de Vila Nova de Famalicão . As ruas com muitas árvores estavam peladas de folhas e flores pelo inverno, mas em toda a cidade, nos quintas e nas ruas resistem as laranjeiras todas carregadinhas de laranjas amarelas cintilando ao sol. Continuamos a caminhar até a Câmara Municipal, o Conselho da cidade. O sistema é parlamentarista e pelo que Davide me explicou as eleições são para o Presidente da República, o Primeiro Ministro e também para os membros do Conselho e o Presidente da Câmara. Elege-se também para o Conselho da freguesia, as menores coisas se resolvem na freguesia e as maiores na Câmara, que tem poder executivo, cuida dos documentos, das obras dos cuidados com a cidade.
Antes de voltar para a casa da família passamos por diversas padarias procurando o "Bolo Rei", especialmente com chila ( fruta tipo melão que se faz um doce e coloca em cima do bolo, mas não pode se usar faca nem colher. Joga-se ao chão para partir e coloca-se na água ao luar), passamos por várias padarias até acharmos.
Na casa além de dona Iracema e seu Elídio, estavam também o Joca, filho, a Gija, nora e o Jójó, neto. O almoço como sempre delicioso constava de um leitão inteiro assado, arroz, batatas e salada, regado a vinho, espumante, refrigerante e cerveja conforme o gosto. Ficamos alí horas comendo e conversando. Daí a pouco pela internet do computador chamado Magalhães que é dado aos estudantes e este era de Jójó, entrou a minha sobrinha Juliana, logo acompanhada de minha outra sobrinha Marilena e os filhos Luiza e Gabriel. Foram muitas perguntas e respostas somadas as várias risadas, lá muito calor e banho de mangueira, do outro lado muito frio. A conversa rendeu a tarde inteira e o Joca inventou de assar camarões e ali se foram mais algumas horas em torno da mesa de jantar com conversa, camarão, vinho e cerveja até as 20h (como se come aqui meu Deus!).
Quando Parecia que tudo ia terminar resolvemos sair para tomar um café no centro de Famalicão, Joca e a família foram para suas casas e eu, Chiquinha, Broto, Luciana, Davide e dona Iracema saímos de carro, mas o roteiro foi estendido para outra cidade próxima: Santo Tirso. O centro da cidade ainda estava todo enfeitado e iluminado com as decorações do Natal e fazia muito frio. Caminhamos por alí, tiramos foto, tomamos café e voltamos prá casa, agora sim para dormir. Dia longo e feliz.
A CAMINHO DE SANTIAGO DE COMPOSTELA
Falando novamente do santuário, é realmente lindo e emocionante, não só o santuário por dentro e por fora, mas todo o conjunto arquitetônico, com praça, hotel, universidade e os complementos de ruas estreitas composta também de lojas, hoteis, cafés e restaurantes todos sempre construídos de pedras.
Ao chegarmos ouvimos de longe uma flauta de fole e ao andar vimos um flautista que tocava a música que ecoava por todo o lado compondo o cenário medieval local, estávamos na região da Galícia.
A nave do santuário é em formato de cruz e dentro do santuário encontra-se um altar todo de ouro (com certeza vindo do Brasil na época da colonização) e nele um grande busto de Santiago e quem quiser bote subir uma escada por trás do altar e abraçá-lo e assim fizemos. Consta também dentro do Santuário o sepulcro de Santiago (o apóstolo Thiago maior, filho de Zebedeu).
Pela manhã, antes de tomarmos café em uma pastelaria (padaria, pois as pastelaria não vendem pastéis e sim café, leite, bolos, doces e refeições rápidas), comemos no quarto uma torta de Santiago com a espada dele desenhada por cima e tudo. Na padaria eu e minha irmã pedimos chocolate, delicioso e forte foi preciso de mais leite para ralear. Dalí nova caminhada, agora no centro comercial de Santiago e depois a estrada de volta, não mais pela auto estrada e sim por dentro, passando pelas cidades e percorrendo (mesmo que de carro) um dos caminhos de Santiago de Compostela, na estrada vê-se as placas indicando o caminho e descemos para fotografar. A primeira cidade que paramos foi "Ponte de Vedras", onde se vê no rio Lérez várias pontes e muitas criações de mexilhões. Almoçamos uma nova paelha, esta ainda mais sortida, num restaurante chamado "Casa Digna" próximo ao cais. Tiramos fotos e dalí seguimos em direção a "Tui" (cidade de divisa entre Espanha e Portugal) onde demos uma volta de carro e paramos para colocar mais um pouco de óleo diesel (mais barato alguns centavos que Portugal) e também comprar caramelos e chocolates. Davide comprou dois sacos de mexilhões, que aprontou logo que chegou em casa. Pegamos outra estrada passando pela antiga alfândega, antes da formação da União Européia, todos eram parados antes de entrar nos países, atualmente os carros só são parados no caso de alguma blitz especial, mas normalmente passa direto. Entramos na primeira cidade de Portugal, "Valença", já estava escuro e chovendo, mas mesmo assim subimos até um forte e encontramos uma visão muito bonita: depois de uma muralha havia uma verdadeira cidade de pedra, com igreja, ruas estreitas, bares e lojas. Realmente lindo! Fiquei com vontade de voltar outro dia com calma e sentir melhor o clima do local.
Chegamos em Famalicão por volta das 10 horas e logo comemos bolinhos de bacalhau, bistecas e feijão fradinho em salada, cada dia uma delícia nova. Já, já chegou a hora de dormir.
ANIVERSÁRIO COM ROJÕES E ARROZ DE MARISCOS
No dia do aniversário da Luciana preferimos não sair de Famalicão. Estava chovendo e já no café da manhã Davide improvisou uma vela do natal para cantarmos parabéns. Após o café fomos a feira, aliás em todas as cidades por aqui as feiras são imensas e de visitas obrigatórias para quem quer conhecer o costume do lugar. Vendem de tudo, roupas, calçados, frutas, legumes, panelas, condimentos, presunto (pernil defumado inteiro ou em fatias), chouriços ou salpicões (lingüiças finas ou grossas cheias de carnes defumadas), entre outros. Muitas barracas das feiras são administradas por ciganos.
Posteriormente ao almoço fomos passear no comércio de Famalicão, aproveitamos para revelar algumas fotos na máquina em um supermercado. Voltamos e Davide fez uma "punheta" de bacalhau, não se assustem! Este nome é dado ao prato de bacalhau cru desfiado com cortes de cebola, regado a bastante azeite e fica muito bom, uma dica para tirar a acidez é lavar a cebola com azeite e sal. Comemos também o que ficou dos rojões e arroz de mariscos e fomos dormir. Luciana estava feliz também por ver tantos comentários sobre seu dia no facebook.
UMA LENDA QUE IMORTALIZOU UM GALO
Após o café da manhã, não tão cedo assim, saímos para visitar Barcelos, cidade que fica a 24,3km de Vila Nova de Famalicão. No caminho paramos na localidade de Nossa Senhora do Carmo onde existe um santuário e tem uma fonte, onde a família de Davide pega a água para beber.
Barcelos é uma freguesia com perto de 20 mil habitantes, o município por inteiro possui 89 freguesias com um total de 120 mil habitantes e recebeu de D.Afonso Henriques o título de foral em 1177.
Chegamos na cidade com chuva fina, então aproveitamos para ir a feira. Além de tudo que existe em todas as feiras portuguesas, em Barcelos, que é considerada a capital do artesanato ( cerâmica, madeira, metal e bordados) encontramos também muitos deles, especialmente, como era de se esperar o "Galo de Barcelos" de todos os tamanhos. Conta a lenda que os habitantes andavam alarmados com um crime e por não descobrir quem era o criminoso. Apareceu um dia um galego que se tornou suspeito. As autoridades resolveram prendê-lo e, mesmo com jurando inocência, ninguém acreditou. Ninguém acreditava também que o galego se dirigia a Santiago de Compostela para cumprir uma promessa, por isso, foi condenado à forca.
Antes de ser enforcado, pediu que o levassem à presença do juiz, assim fizeram e nesse momento o juiz se banqueteava com alguns amigos. O galego voltou a afirmar a sua inocência e como ninguém acreditasse, apontou para um galo assado que estava sobre a mesa e exclamou:
- É tão certo eu ser inocente, como é certo esse galo cantar quando me enforcarem.
Saindo do museu fomos de carrinha até Valinho, uma vila muito bonita onde moravam os pastorinhos e onde apareceu o anjo para anunciar a eles a aparição de Nossa Senhora. O local ainda conserva o ambiente da época. Visitamos primeiro a casa onde moravam os irmãos Francisco e Jacinta, suas camas, a cozinha e o muro onde os três tiraram a tradicional foto após a aparição. Seguimos caminhando mais a frente e chegamos a casa da Lúcia, que me pareceu uma casa mais estruturada com um grande quintal onde as crianças brincavam. Dá para percorrer entre as figueiras, observar as ovelhas num cercado e ir até o poço onde apareceu o anjo e que agora possui imagens do anjo e dos pastorinhos ajoelhados de onde irmã Lúcia escreveu: " À volta (de Ourém), corri ao poço e lá estavam os dois, de joelhos a rezar". Compramos algumas lembranças nas lojinhas do local, entramos no carro e seguimos nosso caminho a procura da neve.
Chegamos em casa já por volta das 21 horas e dona Iracema logo serviu o jantar com bistecas de vitela enormes com refogado de coração (parecido com repolho, mas em formato de coração), sempre tudo muito gostoso. Mesmo com o frio, eu e Chiquinha resolvemos dar uma caminhada no quintal para fazer um pouco a digestão antes de dormir.
FÁTIMA, CAPITAL DA FÉ
postos.
Em Fátima estava serenando, olhando de cima já se vê a chamada "Cova da Iria", a grande esplanada. Ao fundo está a Basílica, no meio a capelinha feita a pedido de Nossa Senhora e funciona a sacristia de uma capela maior, ao lado os espaços para ascender as velas, acima a igreja nova de arquitetura moderna em homenagem Santíssima Trindade e ao seu lado uma grande cruz, acho que é a maior que já vi.
Passamos na capela e assistimos uma missa, o padre, alto, magro e de cabelos claros falava um português bem brasileiro, achei que ele era um estrangeiro que aprendeu a falar português no Brasil. Como o costume, fomos comprar velas para ascender e rezar cada um os seus pedidos para si, amigos e parentes. Acendi duas velas e rezei para que Deus me dê sempre sabedoria para saber quais são os Seus caminhos na atividade política. Rezei também pelos meus parentes, amigos, assessores, o povo brasileiro e os povos que estão sofrendo com a crise, principalmente os mais pobres. Não tem ninguém para vender as velas, você mesmo pega e paga.
Depois do almoço voltamos a Basílica de Nossa Senhora de Fátima, havia uma missa terminando, esperamos um pouco para depois visitarmos os túmulos dos três pastorinhos. Andamos até o outro lado para visitar a igreja nova, a nave é um salão enorme com 900 poltronas estofadas como um grande teatro e na parede atrás do altar um painel dourado (não sei se folheado a ouro) com uma enorme imagem estilo moderno de Jesus crucificado (minha sobrinha disse que o Jesus tem a cara dos portugueses). Por todo lado existem placas escritas que aquele é um lugar de oração, mas dentro da igreja seu Elídio em um cantinho, achando que ninguém iria escutar, resolveu telefonar ao filho Joca, mas o eco fez todos escutarem: "vai a casa! A chave está no vaso preto perto da porta!", todos rimos por um bom tempo disto.
Voltamos ao hotel para ver como estava a minha irmã que pegou uma gripe forte e tinha ficado na cama. Levei aspirina "C" e Chiquinha comprou café, ela estava melhor, mas preferiu continuar no hotel, assim como seu Elídio. Eu e os demais voltamos a olhar o comércio, a comprar lembrancinhas e a procurar a imagem de Santo Ambrósio, em vão.
A noite chegou rápido e procuramos um outro restaurante para variar um pouco, inclusive porque o do nosso hotel já tinha fechado ás 20 horas. Encontramos um que ficava num outro hotel abaixo do nosso, mas não demos sorte, a sopa era rala e o bitoque (prato com arroz, batata-frita, salada, bife e ovo) estava com o arroz muito papado. Voltamos para o hotel Recinto, eram perto das 22 horas, as ruas estavam totalmente desertas, serenava um pouco e eu e dona Iracema começamos a cantar músicas portuguesas, algumas eu conhecia, mesmo que aos pedaços. Foi muito legal.
PELA PRIMEIRA VEZ A NEVE
Subimos com destino a Serra da Estrela, onde Broto, Luciana, Chiquinha e eu ansiávamos para ver a neve pela primeira vez. O tempo estava nublado e de tempos em tempos caia uma chuvinha fina e fria, em tempos menores saia uma aragem de sol fraca, mas a meteorologia previa neve, então aumentava a nossa esperança.
Antes de subirmos a serra paramos em Batalha, onde nos deparamos com um castelo esplendoroso e ficamos todos maravilhados. O castelo, que é na verdade um mosteiro, foi construído por D. João I de Portugal em agradecimento pela vitória na Batalha de Aljubarrota, conforme pesquisei na internet "iniciou em agosto de 1385 entre tropas portuguesas com aliados ingleses, comandadas por D. João I de Portugal e o seu condestável D. Nuno Álvares Pereira, e o exército castelhano e seus aliados liderados por D. João I de Castela. A batalha deu-se no campo de São Jorge, nas imediações da vila de Aljubarrota, entre as localidades de Leiria e Alcobaça, no centro de Portugal. O resultado foi uma derrota definitiva dos castelhanos, o fim da crise de 1383-1385 e a consolidação de D. João I, Mestre de Avis, como rei de Portugal, o primeiro da Dinastia de Avis. A aliança Luso-Britânica saiu reforçada desta batalha e seria selada um ano depois, com a assinatura do Tratado de Windsor e o casamento do rei D. João I com D. Filipa de
Lencastre". Não conseguimos seguir a visita por dentro do mosteiro, pois já estava fechando, mas ficamos na praça fotografando o castelo e um grande estátua do Condestável D. Nuno Álvares Pereira com seu cavalo, tentando registrar toda a beleza, mas embora esforçássemos não conseguimos. É muito mais que a fotografia consegue registrar.
Continuando para a serra paramos num posto de serviço para banheiro e lanche que chamava "Penacova", isto mesmo! Comemos o que chamam de sanches de leitão (sanduíche com carne de porco), embora bem apimentado estava gostoso e tomamos vinho. Paramos nossa viagem numa cidade chamada Seia (com "S" mesmo), onde pernoitamos. Encontramos um hotel de três estrelas, mas bem estruturado, do grupo "Eurosol" chamado Camelo onde pagamos 45 euros por casal e 56 euros para três pessoas, com café da manhã, que aqui é chamado de pequeno almoço. Mesmo depois dos flandes de leitão a maioria preferiu procurar algum lugar para alimentar, encontramos um café e eu comprei para levar um croissant recheada com fiambre e uma coca-cola, que acabei comendo mais tarde no quarto.
EM BRAGA COM NEBLINA E CHUVA
A manhã da segunda correu mais preguiçosa para descansar de tanta aventura do final de semana anterior. Após o almoço, onde comemos bacalhau à chuva (faz junto com purê de batatas), mas tinha sol, então fomos a uma loja de informática e compramos um pendrive para Chiquinha esvaziar a memória da máquina fotográfica que já estava abarrotada. Seguimos para Braga diretamente para a Igreja do Bom Jesus, mais uma igreja muito bonita, com um jardim muito bem cuidado de onde se vê parte da cidade. Tiramos algumas fotos, mas neste momento o tempo
A manhã da segunda correu mais preguiçosa para descansar de tanta aventura do final de semana anterior. Após o almoço, onde comemos bacalhau à chuva (faz junto com purê de batatas), mas tinha sol, então fomos a uma loja de informática e compramos um pendrive para Chiquinha esvaziar a memória da máquina fotográfica que já estava abarrotada. Seguimos para Braga diretamente para a Igreja do Bom Jesus, mais uma igreja muito bonita, com um jardim muito bem cuidado de onde se vê parte da cidade. Tiramos algumas fotos, mas neste momento o tempo
já nublava um pouco, então subimos rapidamente para o mosteiro Sameiro, Davide e Luciana subiram de carro, eu, Chiquinha e o Broto fomos de trenzinho tipo o do Corcovado, mas num trecho menor e movido a água. Ao chegarmos a visão já não era possível, pois a neblina tomava conta de todo o espaço. Uma chuva fria fez com que corrêssemos para a igreja, onde já havia uma missa, ficou a promessa de uma outra visita, pois o Broto e a Luciana já tinham visitado o local antes da minha chegada e disseram que é muito bonito.
GUIMARÃES E FAFE
Já era final da feira quando chegamos para comprar uma mala grande para levar as compras feitas por Davide e Luciana, que todo dia falavam em comprar e já estava virando piada. Nosso destino: Guimarães (onde nasceu Portugal) e Fafe (onde reencontrarei um amigo antigo), mas antes, ainda em Famalicão paramos para visitar a "Casa de Camilo Castelo Branco", escritor
Na
saída do Castelo, uma surpresa desagradável, Davide estacionou o carro e
não viu que tinha parquímetro, fomos conhecer o centro e procurar um
lugar para pagar a multa de 7,50 euros, mas não conseguimos por não
termos o cartão do banco, ficou para pagar em Famalicão. Paramos mais
uma vez para almoçar no restaurante e pastelaria "Santo Cristo". No
centro de Guimarães muito legal ver e fotografar as casas antigas a
compor o cenário da praça e uma muralha com a escrição: "Aqui começa
Portugal".
Deixamos Guimarães com uma chuva fininha, um gosto de quero mais e partimos para Fafe. No centro da cidade a praça 25 de Abril com um chafariz, várias lojas com comércio em geral e no subsolo do Edifício Shopping o ateliê do JJSilva, um ex padre de Barra Mansa, inclusive da minha paróquia na época que eu era catequista. Já naquela época ele gostava muito de cantar, tocar violão e de pintar quadros, me lembro muito bem principalmente das lindas celebrações onde ele, além de celebrar, pegava o violão e cantava as suas canções que sempre questionava a sociedade. Desde 1996 ele voltou para a cidade onde nasceu, tem trabalhando como artista plástico e membro de uma associação de artistas locais "Atriumemória". Foi muito bom encontrá-lo, vê-lo animado com muitos sonhos e projetos "minha cabeça não pára, gira, gira sempre
pensando em um novo projeto", disse. Conversamos sobre os bons tempos, falei dos amigos comuns e cantamos juntos uma canção de sua autoria "Não fique triste meu povo não, há de chegar a libertação. Não durma não, acorde sim, desperte gente com a força na mão...". Depois de me presentear e a com um artesanato retratando a justiça de Fafe (um homem com um porrete na mão ameaçando bater num rico - fato que virou lenda e marcou o local), fomos embora.
Dias depois recebi recebi um e-mail do Silva sobre uma matéria que ele divulgou no jornal: "Pandeló visita Fafe".

Tomamos café e saímos de carrinha até a estação São Bento na Vila do Conde para pegar o metrô, já que o estacionamento da estação de Póvoa estava cheio. Descemos na estação de Trindade e pegamos outra linha para o Porto, a viagem durou uns 50 minutos no total e custou 3,20 euros a ída e 2,70 euros a volta (primeiro você compra o cartão depois só recarrega, por isto que fica mais cara a ida). Sempre gosto das estações ferroviárias e a estação da cidade do Porto também é linda com os tetos altos e trabalhados, as portas em arcos e muitos azulejos pintados em azul retratando a história antiga da cidade. A chuva, no entanto não parou, o vento e o frio continuavam, corremos até igreja, depois, também correndo atravessamos a praça e paramos num restaurante, experimentamos cada um uma francesinha para comprovar se realmente era a melhor do país e vimos que tinha realmente mais ingredientes que a anterior. Pedi logo uma dose de vinho do Porto para tirar a friagem. Depois de comermos, descemos a rua em direção a Ribeira, a passagem estava difícil pela chuva, mas também pelas obras em todo o trajeto e na placa dizia que o objetivo era a construção de calçadas largas, urbanização e novos estacionamentos. Passeamos e tiramos fotos pelas margens lindas do rio Douro com seus barcos ancorados, os bares com paredes de vidro para que ninguém deixe de olhar a paisagem, feliz até dancei de sombrinha lembrando Fred Ester no filme "Dançando na chuva", mas infelizmente não conseguimos suportar o vento e corremos para dentro de um dos bares para nos esquentar com café, capuccino e chocolate. Subimos novamente todo o percurso á pé até a rodoviária e voltamos para Póvoa, sentindo muita pena por não ter podido andar e conhecer esta importante cidade, com suas adegas que ficavam do outro lado do rio. Paramos novamente na Casa do Frango para jantar e fomos para o apartamento dormir.
JANTAR EM TROFA E VOLTA A PÓVOA DO VAZIM
A manhã já começou com chuva e nós só saímos para ir a feira de Famalicão.
Dias atrás um amigo do Davide veio com o filho até a sua casa e nos convidou para jantar em Trofa, um município próximo de Famalicão. O Jantar foi marcado para esta noite, nos aprontamos todos para enfrentar o frio e fomos encontrá-los no Restaurante "Flor do Ave (nome do rio)". As mulheres comeram bacalhau assado com batatas e beberam espumante, os homens comeram Leitão com saladas e beberam vinho tinnto. De entrada foi servido melão, muito doce com presunto local. O amigo de Davide chamado Silvério é um senhor falante, empresário da construção civil, conhece o Brasil e quer comprar uma casa em Fortaleza e seu filho Michel, um espectador assíduo da Rede Record é um apaixonado pelo nosso país e ficou o tempo todo falando sobre o Brasil com minha irmã, Luciana, Davide e Chiquinha, aliás as novelas brasileiras são muito assistidas em Portugal. Quando estávamos lá estava passando "Páginas da Vida", "Fina Estampa", Avenida Brasil, uma regravação de Dancin Days com atores portugueses e os últimos capítulos de Gabriela. Para o jantar eles convidaram um amigo chamado Sanches, empresário no ramo de farmácia, tem uma casa em Fortaleza, visto permanente e já abriu processo para adquirir dupla cidadania. Os dois enalteceram o governo Lula e Dilma e sabem que é um bom negócio investir no Brasil num rendimento a 11% ao ano, pois segundo eles, em Portugal, mesmo fora da crise, não chega a 3,5%. O jantar foi muito gostoso e divertido.
Saímos do jantar prá Póvoa do Vazim e fomos direto prá cama.
Pela manhã ainda chovia e da janela do apartamento dava prá ver o mar agitado e o vento soprando forte, mesmo assim, na esperança de ser uma chuva passageira como em outros dias, resolvemos manter o combinado e nos prepararmos para ir ao Porto.
No
outro dia a chuva continuava e as ondas estouravam com força. Após o
café descemos para voltar prá casa, mas ao chegar no carro o limpador de
para-brisa não funcionava, Davide seguiu dirigindo e limpando
manualmente o vidro por dentro e por fora, até que foi informado onde
teria uma oficina. Ficamos numa loja chinesa até que ele achasse a tal
mecânica, mas voltou dizendo que o cara da oficina disse que era
problema do motor e que teria que desmontar para consertar. Foi aí que
resolvemos ligar para o Joca que deu a indicação para o conserto: basta
dar uns ponta-pés abaixo do volante e tudo certo, simples assim, tudo
certo. Já passava das 15 horas quando paramos no Restaurante Touroegalo
e comemos uma"parrilhada" (tipo churrasco misto) acompanhado com arroz,
verdura e feijão preto, foi aí que vimos quanta saudade estávamos do
feijão preto. O garson, casado com uma angolana criada no Brasil disse
que adora feijoada e muito simpático sempre voltava a mesa perguntando
se faltava alguma coisa e dizia ao sair: "continuação do bom proveito",
uma graça. Voltamos numa boa para Vila Nova de Famalicão.
UM SHOW COM GOSTO DE BRASIL
A
partir deste dia a chuva e o frio intensificaram. Na TV muitas matérias
divulgam número de desabrigados, árvores caindo em cima dos carros,
estufas acabadas perturbando a produção rural e a vida dos agricultores e
neve por muitos países da Europa. Graças a Deus escolhemos os dias
certos para viajar por aqui, pois até em Fátima e na Serra da Estrela
aconteceram problemas.
No sábado
á tarde e noite, no entanto , a chuva deu uma trégua, embora ainda
ventasse frio, eu, Chiquinha e dona Iracema saímos para dar uma volta
no bairro, existe uma parte com novas residências. Paramos num pequeno
parquinho e dona Iracema desceu no escorregador, Chiquinha fez o mesmo,
mas acabou caindo no final, rimos muito e continuamos a andar até a
padaria, levamos pães e docinhos sortidos, nas padarias aqui se
encontram muitos e deliciosos.
Um
pouco mais tarde saímos para visitar o Joca e a Jija, mas não estavam
em casa, pois levavam o Jojó ao catecismo, então fomos encontrá-los
próximos a igreja, ficamos conversando alí esperando o Jojó e combinando
sair a noite. Fomos de início ao restaurante "Marco", Joca queria que
experimentássemos uma verdadeira francesinha e assim foi. Pedimos uma
francesinha para cada um regada a chopp para alguns e a vinho "Gazela"
para outros. Eu, Broto e até a Chiquinha (que pediu uma mini) não
conseguimos chegar ao final de tão grande era a francesinha especial.
Saímos dali e fomos a uma festa de São Sebastião em
"Gondfiels"(localidade perto de Póvoa), organizada pelos jovens que
fazem 20 anos a cada ano.
No local não existiam muitas barracas, mas um
grande palco para o show do cantor "Zé Amaro", que faz muito sucesso em
Portugal. Dançamos muito, especialmente dona Iracema e Chiquinha, que
não pararam o tempo todo. O cantor era muito carismático, comunicava bem
e cantou músicas sertanejas, muitas delas brasileiras, aliás a música
sertaneja brasileira faz muito sucesso por aqui, a Jija sabe cantar
muitas e reconhece vários cantores. Vi na feira e ouvi no rádio do carro
os CDS de Paula Fernandes, Luan Santana, Vítor e Léo, Gustavo Lima,
entre outros. Fiquei de mandar prá ela o filme "Os Dois Filhos de
Francisco", "Lula o Filho do Brasil" e o "Menino da Porteira". Após o
show houve uma queima de fogos, lembrei que já era dia 20 de janeiro, da
festa de São Sebastião de Barra Mansa e da sua grande procissão que
participo todos os anos. Rezei agradecendo pela oportunidade desta
viagem e pedi por todos nós, portugueses, brasileiros. Voltamos para
Famalicão e fomos dormir satisfeitos, já passava das 3 da manhã.
Acordamos
tarde preguiçosos, mas dona Iracema já estava há muito de pé, tinha
ido a missa antes de clarear e já pensava no que fazer para o almoço.
Seu Elídio e Davide saíram para comprar parte do almoço e logo depois
chegaram Joca, Jija e Jojó. O almoço constou de um delicioso cozido a
portuguesa de verduras e legumes com couve, repolho, cenouras e batatas e
outro cozido com diversas partes do porco e do boi, acompanhado de
arroz. É lógico que o tempo todo com estas comidas deliciosas temos que
fazer esforço para não cometer o pecado da gula e não engordar, não sei
dizer se consegui fugir destes perigos, acho que não.
Depois
do almoço fomos de carro num lugar próximo chamado Estela, onde há uma
grande feira, caminhamos por ali, passamos no apartamento de Póvoa para
irmos ao banheiro e voltamos a Famalicão.
Na
segunda-feira pela manhã o sol deu o ar da graça um pouquinho, mas logo
a chuva voltou. Não saímos e alguns aproveitaram para começar a arrumar
as malas. No almoço um saboroso bacalhau a Mendes Sá e a confirmação de
um convite do Silva para um colóquio comigo sobre o Brasil de ontem, de
hoje e as nossas formas de organização popular. Depois do almoço
saímos todos para comprar bacalhau, vinhos e azeite para levar ao Brasil
e muitas preocupações com o peso da mala. Paramos numa churrasqueira e o
seu Elídio comprou dois frangos assados para o jantar. Depois do jantar
começaram os embrulhos das garrafas e vimos que necessitávamos de mais
malas.
ESTÁ CHEGANDO A HORA
Na
terça-feira pela manhã por três vezes aconteceram pancadas de chuva de
granizo, rapidinho derretia e daqui a pouco outra. Antes do almoço
saímos até uma quinta do bairro para conhecermos a madrinha do Joca e de
Davide por consideração, dona Elídia e sua filha Maria João, onde
visitamos também a adega onde eles produzem vinho com as uvas plantadas
ali mesmo e que o seu Elídio trabalha na produção a cada ano. As duas já
visitaram o Brasil e foram muito simpáticas.
De
volta a casa almoçamos umas deliciosas coxas de peru e saímos para dar
novas voltas em Famalicão e depois Braga onde chovia muito, mas
conseguimos andar até a Sé e desta vez encontramos a igreja aberta.
Majestosa, a Sé possui vários lutres muito bonitos, imagens na cor de
cimento de diversos santos, os brasões de todas as freguesias em
flâmulas pregadas na parede, o altar principal e de cada lado os
altares da Nossa Senhora da Rosa, Nossa Senhora do Sameiro, Sagrado
Coração de Jesus e o Santíssimo todos em ouro. Saindo da Sé compramos
mais algumas lembrancinhas e depois voltamos a pé até o sempre "Cristo
Rei" onde comemos uma pizza família especial muito boa e é lógico que eu
e o Broto pedimos duas doses de Licor Beirão para esquentar o corpo do
frio, que só não ficou molhado porque ao sair eu não esqueço mais de
levar o kispo que comprei para ir a Serra da Estrela. De volta a casa
fui escrever este diário
enquanto também dava umas olhadinhas para a TV
ligada, passou primeiro o jornal, percebi que este tempo todo que
estou em Portugal a TV portuguesa não traz notícia do Brasil, a única
vez foi falando de uma cachorrinha que anda um grande trecho para levar
comida para os filhotes. Sobre a crise a versão da TV é que os piores
momentos passaram e que o mercado recupera e noto que as pessoas não
gostam muito de falar sobre o assunto. Por falar de cachorrinha tenho que falar da Nina, a cachorrinha da família sempre presente por aqui
DE VOLTA A GUIMARÃES E A FAFE - COM SABOR BRASILEIRO
A chuva fina continuava a cair e o frio intensificava, melhor então ficar em casa pela manhã e descansar um pouco na grande sala com a lareira (ou lume) sempre aceso a aquecer a água e toda a casa. A hora do almoço para quem acordou ás 9:30 chega rápido e o cheiro do cozido à portuguesa com postas de peixes com legumes e verduras diversos já aguça a apetite (não resisto as variedades feitas pela dona Iracema!). Após o almoço resolvi dar uma cochilada para revigorar as forças já que a noite prometia.
Em Guimarães fomos conhecer, do outro lado de onde estivemos anteriormente, a Igreja de Nossa Senhora das Oliveiras, logo na entrada levei o maior susto, pois acima da porta estavam vários homens restaurando o antigo órgão. Além de ser muito bonita a igreja toda de pedra compõe um conjunto arquitetônico, você passa por uma grande porta e vê construções muito antigas e alguns bares, mesmo com chuva mantiam suas cadeiras na calçada. Por todo o canto ouvia-se gritos de jovens que não dava para perceber bem o que diziam, mas Davide disse que eram estudantes a fazerem trotes aos novatos. Alguns vestidos como senhores
mandavam os demais fazerem tarefas, parecendo aquela brincadeira de criança "boca de forno! Forno! Fazei tudo que o mestre mandar? Faremos todos! E se não fizer? Ganharemos um bolo! " (lembram? Pois é). Ficamos por instantes ali do lado de fora da igreja tirando fotos, tentando registrar em panorâmica toda a beleza do local e observando os jovens, de repente eles vieram até nós, cantaram uma canção romântica, fizeram um coração com as mãos, o que retribui da mesma forma, e foram continuar a brincadeira. Saímos andando pelas ruas antigas e eu olhando prá traz fiquei com uma vontade de voltar ali sem chuva, sentar numa cadeira daqueles bares, pedi um café, um vinho ou cerveja e ficar saboreando devagar a conversa e o clima do lugar. Chegamos mais uma vez ao "Cristo Rei" e jantamos.
Na estrada prá Fafe, com chuva e serração, já comentávamos que com aquele frio com certeza não apareceria muita gente para o encontro, mas o combinado seria cumprido. Chegamos na cidade cedo, procuramos a biblioteca, estacionamos o carro e fomos procurar um café. No caminho encontramos com o Silva, meu amigo e um dos organizadores do evento, pareceu que ele também estava desanimado com a possibilidade de público, pois disse: "tá um tempo do caraça!". O café que tomamos foi na pastelaria Sãozinha (lembrei da minha irmã Conceição que tem o apelido de São), reconheci nas paredes os muitos quadros do JJSilva, na hora de pagar fiz questão de dizer a funcionária que a decoração era de muito bom gosto.
Ao
final um senhor da platéia, que eu não lembro o nome, mas lembro bem o
rosto, disse espontaneamente uma frase do Hino Nacional brasileiro para
me homenagear, uma gracinha. De presente também recebi vários livros de
diversos autores fafenses, uma bandeira, duas medalhas da Junta e da
Câmara de Fafe e uma linda tela do JJSilva, que eu já tinha visto e
gostado quando visitei o ateliê dele, não sei se ele notou. Terminado o
encontro fomos á pé novamente a "Pastelaria Sãozinha", acompanhados de
várias pessoas entre elas a professora Maria José (que disse adorar tudo
que é do Brasil e nos convidou para ir em sua casa, mas não tínhamos
tempo) e um jovem professor, que tocou violão e me perguntou
timidamente como faria para dar aulas no Brasil, já que como muitos ele
também estava desempregado, anotei o e-mail para mandar a informação. O
dono da pastelaria, que também tocou percussão no evento, Nos ofereceu
café, chá ou capuccino (conforme o pedido de cada um) acompanhado de um
delicioso pão-de-ló, aliás a pastelaria possui certificação para a
produção do bolo de nome parecido com o meu. Assunto teríamos para um
bom papo a noite toda, mas já era uma hora da manhã de quinta e tínhamos
uma viagem de uns 40 minutos pela frente. Nos despedimos entusiasmados e
eu agradecida tive a certeza que não poderia ter voltado ao Brasil sem
ter voltado a Fafe.
Na estrada prá Fafe, com chuva e serração, já comentávamos que com aquele frio com certeza não apareceria muita gente para o encontro, mas o combinado seria cumprido. Chegamos na cidade cedo, procuramos a biblioteca, estacionamos o carro e fomos procurar um café. No caminho encontramos com o Silva, meu amigo e um dos organizadores do evento, pareceu que ele também estava desanimado com a possibilidade de público, pois disse: "tá um tempo do caraça!". O café que tomamos foi na pastelaria Sãozinha (lembrei da minha irmã Conceição que tem o apelido de São), reconheci nas paredes os muitos quadros do JJSilva, na hora de pagar fiz questão de dizer a funcionária que a decoração era de muito bom gosto.
Voltamos
a biblioteca, pois já era próximo ás 21:30, o horário marcado para
iniciar e já encontramos algumas pessoas que organizavam o local. No
saguão, onde tinha um grande painel com uma foto e a poesia de Florbela
Espanca, fiquei conversando com Vereador da Cultura,
Pompeu Miguel
Martins e com o historiador Daniel Bastos, ambos já estiveram no Brasil e
me falavam de como Fafe mantém relações culturais com o nosso país. Aos
poucos foram chegando as pessoas, entre eles músicos com instrumentos e
quando o encontro iniciou o auditório já tinha em torno de 50 pessoas
(homens, mulheres, jovens adultos e idosos), uma surpresa para todos
nós pelo horário e o tempo super frio e chuvoso.
O
evento foi uma iniciativa da associação "Atriumemória" em parceria com
o Atelier J.J. Silva e apoio do Município e Junta de Freguesia de Fafe.
Para a mesa estava também o nosso amigo chamado por eles de professor
JJSilva, o Vereador da Cultura, Pompeu Miguel Martins e Carlos Afonso,
Presidente da Assembléia Geral da Atriumemoria, que fez a moderação. De
início projetaram o filme
"Fafe, marcas dos brasileiros de torna viagem”, que mostrou como a
migração dos portugueses para o Brasil influenciou o crescimento de
Fafe, sua arquitetura, literatura e cultura em geral. Todos falaram no
mesmo sentido e de como ainda hoje se conserva esse relacionamento com
diversas cidades brasileiras, inclusive tendo uma parte importante do
museu dos migrantes de Fafe dedicado ao Brasil, um museu de Fafe em
Porto Seguro e intercâmbio entre artistas fafenses e brasileiros, que
montam e encenam peças juntos todo ano. Na minha parte foi solicitado
que eu falasse do Brasil de antes e de hoje e de como
se deu o processo da mudança. Resumidamente falei das nossas
organizações em comunidades de base, nos movimentos sociais, do
nascimento do PT, de como o Silva ajudava na nossa conscientização com
sua pintura, letra e música. De como éramos dependentes do FMI (que
impõe hoje a mesma receita de recessão a Portugal) e que somente após o
governo Lula e agora no governo Dilma estamos sentindo a construção da
nossa independência com crescimento e distribuição de renda. O Silva a
cada momento ficava empolgado recordando daquela época e dizendo que
este tipo de organização pela base precisa ser realizado em Portugal
para enfrentar o momento atual.
Durante
todo o colóquio aconteceram apresentações de poesias portuguesas e
brasileiras pelos senhores Augusto Lemos e António Leitão, com
acompanhamento musical de J.J. Silva, César Silva e José Marques,
enquanto o senhor Jesus Martinho registrava tudo para o blog da
entidade e para mandar para a imprensa. Os jovens irmãos Duarte e Diana
Baptista, com voz e violão apresentaram várias músicas, entre elas uma
do Silva, depois o próprio tocou e cantou e eu cantei junto o refrão,
realmente muito bonito e emocionante.
O
nevoeiro já tinha se dispersado, por isto a viagem de volta foi mais
rápida do que a de ida. Chegamos em casa, olhamos novamente os livros,
as medalhas, as telas e depois de comer um pedacinho de um "bolo rei"
delicioso, que dona Iracema comprou em Guimarães, fomos para a cama, mas
eu demorei bastante para dormir, pois a adrenalina estava a mil e não
saia da minha cabeça aqueles momentos tão emocionantes.
HORA DA PARTIDA
Acordei no horário de costume, mesmo sem dormir direito e novamente a novela da mala recomeçou, pois com tantos livros era necessário uma mala maior. Saímos e encontrei uma mala de tamanho médio em promoção, então resolvi comprar duas latas grandes de atum, já que tinha espaço e folga no peso.
Voltamos a casa para o almoço e experimentamos um arroz de polvo extraordinário acompanhado de grelo refogado (procurei semente para plantar no Brasil, mas não achei) e vinho, é claro. Dona Iracema já avisava brincando: "pode comer a vontade que a noite é outro prato porque teremos visita!", a visita no caso não éramos nós e sim o Joca, a Jija e Jojó.
Depois do almoço eu e Chiquinha fomos reorganizar a mala quando o senhor Elídio que já tinha separado um vinho do Porto especial para trazer para o Tio Tonho, resolveu oferecer para o Edson uma garrafa de cachaça (bagaceira da uva que ele mesmo produziu) e lá vai arrumar espaço para mais isto, sempre pensando que a balança da casa parecia meio esquisita, minha irmã nem dormia direito pensando nisto.
A noite o restante da família chegou e Jija trouxe para mim, Luciana, Chiquinha e Broto presentes (chales e bonequinhas russas matriarkas), muito gentil. O jantar, que já estava pronto foi servido: camarões cozidos, arroz, carne de vitela com batatas, costelinha de porco, não precisa dizer do sabor delicioso comum a todas as comidas feitas por dona Iracema no decorrer destes dias. Comemos e depois continuamos à mesa, bebendo vinho e conversando. Davide mostrava ao irmão o funcionamento do wireless que comprou para o Jojó, Joca mostrava na internet fotos do seu trabalho, instalação de celindros gigantes para o tratamento do esgoto, Luciana mostrava fotos do Davide mais magro quando se conheceram, eu via o valor de sítios, apartamentos, casas e passagens, estimulando e brincando sobre a ida deles para o Brasil.
Entre essas e outras conversas o tempo passou, já era 11:30 quando começamos a colocar as malas no carro para adiantar a saída para o aeroporto no outro dia. Digo começamos, mas quem colocou mesmo foi os homens, especialmente o Joca, pois as malas estavam muito pesadas e todos diziam que passavam dos 32 quilos permitidos por unidade. Enchemos a carrinha, duas malas no carro do seu Elídio e ainda faltavam as malas pequenas de mão, que foram no colo. Ficamos preocupados, mas não tinha como, o jeito era pesar no aeroporto e levar um saco para trazer de volta o que excedesse. Já era mais de 1 hora da manhã quando fomos deitar e ás 4:30 o Joca e a Jija já estavam de volta a casa para nos acompanharmos ao aeroporto. Davide dirigiu a carrinha abarrotadas de malas e as outras (eu, Luciana, Broto, Chiquinha), Joca dirigia o carro com seu Elídio, dona Iracema, Jija e Jojó. Chegamos 5:35 no aeroporto, uma paradinha para as fotos com a família e a fila para pesar as malas, duas delas, a da Chiquinha e a do Broto passaram no peso, mas como haviam outras com menos pesadas, foi possível retirar de umas e colocar em outras, assim seu Elídio voltou com o saco que levou para eventuais sobras, vazio. Afinal a balança não estava tão doida assim (xiiii tô preocupada com o meu peso rsrsrsr!).
Uma parada para um café, depois a despedida sempre dolorida, ainda mais para o seu Elídio e dona Iracema, que sentem com certeza muita falta do filho. Olhos cheios de água e lá vamos nós muito agradecidos pelo carinho e amizade. Do vidro, os que ficaram, acenavam com as mãos e mandavam beijos, correspondidos por nós, que passavam abaixo rumo ao embarque.
O avião saiu ás 8:15 com previsão de chegada ao Rio ás 16:30 horas. Neste momento estamos a 816 km por hora, a temperatura exterior é de 54º celcius negativos, nossa altitude é de 11887metros, estamos em mares brasileiros, perto de sobrevoar Fortaleza, são 12 horas e 44 minutos, nas cadeiras da frente estão o Broto, Luciana e Davide e eu atrás com a Chiquinha, é muito bom viajar, mas é ótimo voltar prá casa sabendo que tudo deu certo.