quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Diário de Viagem 2 : COMERE, REZARE E A-VER-O-MAR




SEM NEM PENSAR
             Sou descendente de portugueses e espanhóis,  mas  não sei porque Portugal nunca esteve na minha  lista prioritária de visitas, no entanto, aqui estou eu,  no dia 2 de janeiro de 2013, ás 19 horas e trinta e sete minutos, dentro do avião da TAP sobrevoando Petrolina  com destino ao Porto e escala em Lisboa.
O avião agita em uma grande turbulência e o comandante manda que todos se sentem. Do meu lado Chiquinha lê o livro "A Cabana" que ganhei da minha sobrinha Luciana no natal.  Começo a escrever o meu Segundo Diário de viagem (o anterior retratou a minha viagem a Itália, também disponível neste blog).
             Bom, conto então agora os motivos desta viagem.  Minha sobrinha Luciana, (nascida em Volta Redonda, mas mineira com certeza) dando vários e vários  rolés pela internet acabou fazendo amizades com os gajos. Um deles de codinome "Amigo Zezinho"  lhe chamou especial atenção. Os diversos e-mais acrescentou-se a  diversos skipes, horas e horas na internet,  namoro virtual, visita e casamento, isto mesmo! Em maio de 2011 fui convidada novamente a ser madrinha, agora do casamento de Luciana e Davide na cidade de Cataguases, minha terra natal. Para as bodas vieram os pais, dona Iracema e seu Elídio, muito divertidos e simpáticos, passaram uns dias pelo Brasil e eu pude acompanhá-los junto com minha irmã Lourdinha (que eu chamo de Broto) ao Rio. Faltava agora uma visita dos recém-casados aos sogros e cunhados e com a companhia da minha irmã a viagem ficou marcada para final de dezembro de 2012. Tive que declinar do convite,  pois estava concorrendo a prefeitura de Barra Mansa no Sul do Estado do Rio. Terminada as eleições, sem obter êxito e de recesso no legislativo estadual, aceitei o convite, só esperei o dia primeiro para participar das posses dos prefeitos eleitos e como já disse, cá estou eu no vôo da TAP rumo a Cidade do Porto. De última hora só conseguimos passagem com escala em Brasília (4 horas de espera) e Lisboa, para depois chegar ao Porto. Como saímos de Barra Mansa ás 8h e a previsão de chegarmos ao Porto é ás 8:30 teremos no total  mais de 24 h de viagem. É mole?
A turbulência parou e começaram a servir o jantar, bem brasileiro por sinal - escondindinho de carne seca. Depois de jantar,  assistir o filme "Até que a Sorte nos Separe" e virar por muitas vezes na cadeira sem posição, o sono me pegou  e só acordei com as luzes novamente acesas para servir o café da manhã, estávamos chegando a Lisboa ás 5:45 da manhã, um pouco mais cedo que a previsão.  O Momento agora é enfrentar a fila enorme da alfândega e esperar o vôo para a cidade do Porto que saiu ás 7:30
Após uma hora de viagem não acreditei que uma experiência se repetia: a mala se perdeu na viagem , a minha, pois a  da Chiquinha chegou intacta. Depois do registro na sessão de achados e perdidos, encontramos do lado de fora minha irmã (Broto) , minha sobrinha (Luciana) e seu esposo (Davide), que chegaram no dia 29 de dezembro e estavam cansados de nos esperar. 
O irmão de Davide, Joca,  emprestou o carro (carrinha prá eles)  de sete lugares para nossa acomodação e assim fomos para a cidade (freguesia) de Vila Nova de Famalicão.  Em casa, uma vivenda bonita com um quintal não muito grande onde tem criação de galinha, plantação de couve, laranja, limão, flores e abóbora gigante, um cantinho muito agradável. Dona Iracema e seu Elídio, sempre muito alegres e solícitos nos serviu um café com muitas guloseimas  a ponto de não sabermos o que deveríamos comer. Depois de 25 horas em ação, só nos restou esticar numa cama e dormir um pouco. 

SEM  PREOCUPAÇÃO 
              Depois do soninho, o almoço veio com as tradicionais sardinhas assadas e salmão grelhado com batatas, perfumando toda a casa  e estimulando nossa fome, mesmo depois daquele café suculento.
A tarde, saímos para dar uma volta, especialmente para comprarmos algumas roupas enquanto a minha mala não chegava. A época é de saldo, encontram-se roupas e calçados muito baratos, minha irmã e sobrinha fazem a festa. Saímos então para passear e ou conhecer alguns lugares como Vila do Conde, com suas ruas estreitas, Esposende, uma cidade muito bonita onde tiramos várias fotos na beira do mar e  Póvoa do Vazim, onde Davide possui um apartamento no bairro "A-Ver-o-Mar".  De repente a noite chegou e resolvemos dormir por alí, mas antes experimentamos um delicioso frango assado com batatas fritas e um bife grelhado (churrasco) num restaurante chamado Casa dos Frangos.
Por telefone soubemos que a minha mala foi entregue depois das 23 horas em Vila Nova de Famalicão, coitados da dona Iracema e seu Elídio que tiveram que recebê-la tão tarde. 
Tivemos todos um bom sono. Pela manhã fazia sol, saímos para tomar café e seguimos para a cidade "Viana do Castelo", visitamos a feira onde comprei  um casaco de feltro e umas calças. Por todas as cidades existem feiras que vendem de tudo, chamou a nossa atenção também as lojas dos chineses que se espalham oficialmente por todos os lugares e nunca fecham, pois muitos moram onde trabalham. Segundo me informaram, recentemente foi aprovado uma lei onde obriga que cada loja chinesa tenha no mínimo 2 funcionários portugueses e venda um percentual de produtos do país.  
Em Viana visitamos o castelo em homenagem ao Sagrado Coração de Jesus no Mosteiro de Santa Luzia, de toda a cidade se avista esta linda construção do ano de 1898 Inspirado no Sacré Coeur de Paris. No local pagando 1 euro sobe-se até o Zambório (uma parte de elevador e o restante por uma escada apertada em caracol). Eu e Davide subimos até o final, Luciana e Chiquinha pagaram até onde vai o elevador e o Broto nem subiu, mas eu tenho que confessar, subi porque sou teimosa, mas cheguei lá em cima com os bofes prá fora, quase sem respirar. De cima dá prá ver a cidade toda e contemplar também o mar. Descendo, andamos pelas ruas a procura de lenços portugueses para darmos de presentes as irmãs de Minas Gerais, foi a primeira vez que ouvi falar da crise. Ao ser pedido um desconto,  a vendedora, uma senhora que parecia ter perto de 60 anos, disse que não podia senão,seria descontado do seu salário e que era muito pobre, então disse que devido a crise muitos estão desempregados, que como a Europa toda está em crise, o número de turistas diminuiu e que a loja está para fechar. Nos despedimos com vontade de ajudar e desejamos boa sorte. 
Até então não havíamos almoçado, só andado. Fomos então ao shopping estação, que fica do lado da mesma e comemos salada de entrada e pizza Hutt, interessante como serviram a salada em taças grandes de sorvete ou gelato, como dizem (vou servir assim lá em casa, muito chique). 
Nós, que tínhamos colocado todas as bolsas no carro, resolvemos mais uma vez voltar a " Povoa do Vazim " , mas antes passamos no mercado. Davide comprou camarões cozidos e gelados e comemos no apartamento com vinho e cerveja, é lógico que o nosso, mulheres brasileiras, foi esquentado no Micro-ondas.  


Pela manhã Davide já tinha comprado um suco de ananás e alguns pães para tomarmos café. Saímos novamente para "A-Ver-O-Mar" e o centro de "Póvoa do Varzim",  muito bonita, por sinal. Caminhamos pelas ruas, tiramos fotos, inclusive na frente de um casino que abre a partir das 16 horas e rimos muito brincando com minha irmã, dizendo  que tínhamos que segurá-la para ela não entrar (ela é reconhecida como uma pessoa de sorte).  Antes de voltar a Vila Nova de Famalicão, fomos a um local que chamam Churrasqueira, onde  Compramos comida pronta, levamos duas porções de bacalhau na nata (creme de leite) e vitela recheada, acompanhadas de batatas assadas, fritas e arroz, muita comida que sobrou para o outro dia e pagamos 47 euros no total. Era sábado, mas depois do almoço, preferimos dormir e não sair a noite,  tomamos um chá e conversamos  em casa. 

DIA DE REIS
             Chegamos apressados na Igreja Santiago de Anta em Famalicão para a  missa dos Reis. A igreja de porte médio estava tão  lotada que haviam pessoas do lado de fora, fomos assistir a missa na sacristia. Gostei da homilia do pároco local Francisco Alves que comparou a postura das pessoas encontradas pelos Reis Magos as posturas hoje encontradas nas pessoas: aquelas que estão desligadas, não estão atentas as manifestações de Deus, assim como aquelas que viviam na época em Belém e nem sabiam que o Rei dos Reis havia nascido e aquelas que procuram e segue a estrela, a luz, assim como os Reis que seguiram a estrela e encontraram Jesus. Só não concordei com a parte que ele falou das outras religiões não regulamentadas, não consideradas por ele como manifestações de Deus, eu penso ao contrário, a manifestação de Deus não tem cerca e seu Espírito manifesta onde Ele quer. Ao final houve o beijo ao menino Jesus no altar, fogos e música do lado de fora e ficamos conversando com amigos de Davide.


 Saindo da Igreja fomos dar uma volta pelo centro de Vila Nova de Famalicão . As ruas com muitas árvores estavam peladas de folhas e flores pelo inverno, mas em toda a cidade, nos quintas e nas ruas resistem as laranjeiras todas carregadinhas de laranjas amarelas cintilando ao sol. Continuamos a caminhar até a Câmara Municipal, o Conselho da cidade. O sistema é parlamentarista e pelo que Davide me explicou as eleições são para o Presidente da República, o Primeiro Ministro e também para os membros do Conselho e o Presidente da Câmara. Elege-se também para o Conselho da freguesia, as menores coisas se resolvem na freguesia e as maiores na Câmara, que tem poder executivo, cuida dos documentos, das obras dos cuidados com a cidade. 
Antes de voltar para a casa da família passamos por diversas padarias procurando o "Bolo Rei", especialmente com chila ( fruta tipo melão que se faz um doce e coloca em cima do bolo, mas não pode se usar faca nem colher. Joga-se ao chão para partir e coloca-se na água ao luar), passamos por várias padarias até acharmos.
Na casa além de dona Iracema e seu Elídio, estavam também o Joca, filho, a Gija, nora e o Jójó, neto. O almoço como sempre delicioso constava de um leitão inteiro assado, arroz, batatas e salada, regado a vinho, espumante, refrigerante e cerveja conforme o gosto. Ficamos alí horas comendo e conversando. Daí a pouco pela internet do computador chamado Magalhães que é dado aos estudantes e este era de Jójó, entrou a minha sobrinha Juliana, logo acompanhada de minha outra sobrinha Marilena e os filhos Luiza e Gabriel. Foram muitas perguntas e respostas somadas as várias risadas, lá muito calor e banho de mangueira, do outro lado muito frio. A conversa rendeu a tarde inteira e o Joca inventou de assar camarões e ali se foram mais algumas horas em torno da mesa de jantar com conversa, camarão, vinho e cerveja até as 20h (como se come aqui meu Deus!).
Quando Parecia que tudo ia terminar resolvemos sair para tomar um café no centro de Famalicão, Joca e a família foram para suas casas e eu, Chiquinha, Broto, Luciana, Davide e dona Iracema saímos de carro, mas o roteiro foi estendido para outra cidade próxima: Santo Tirso. O centro da cidade ainda estava todo enfeitado e iluminado com as decorações do Natal e fazia muito frio. Caminhamos por alí, tiramos foto, tomamos café e voltamos prá casa, agora sim para dormir. Dia longo e feliz.

A CAMINHO DE SANTIAGO DE COMPOSTELA 

Já era 8 horas da manhã e depois de arrumar as malas, nos prepararmos e tomarmos café,  partimos para Santiago de Compostela, Espanha, 205 Km de distância de Vila Nova de Famalicão, roteiro de caminhadas místicas e religiosas.  Dona Iracema arrumou uma sacola com guloseimas e água para a viagem, só paramos em Tui, primeira cidade da Espanha no trajeto para colocar óleo diesel - pensou que iríamos á pé? Não! Falta tempo e disposição física, principalmente.
Chegamos quando já tinha passado das 13h. Fomos direto para a área da catedral a procura de um banheiro (asseio), pensando que daria para ainda assistir a uma missa e quem sabe ver "por o fumeiro", mas não tivemos esta sorte.  Pela internet soubemos que o fumeiro é colocado todos os dia na missa das 12 horas, mas não sei se acontece de fato ou se só aos domingos. Este fumeiro é um incensário gigante que fica pendurado por uma corda em cima do altar e quando é balançado durante as missas percorre balançando sobre os fiéis e incensando a todos. Dizem que foi criado porque os peregrinos chegavam aos montes todos fedidos de suor depois de dias de caminhada  e o incenso servia para aliviar o odor no santuário, acabou virando mais uma atração turística para o local. 
Falando novamente do santuário, é realmente lindo e emocionante, não só o santuário por dentro e por fora, mas todo o conjunto arquitetônico, com praça, hotel, universidade e os complementos de ruas estreitas composta também de lojas, hoteis, cafés e restaurantes todos sempre construídos de pedras.
Ao chegarmos ouvimos de longe uma flauta de fole e ao andar vimos um flautista que tocava a música que ecoava por todo o lado compondo o cenário medieval local, estávamos na região da Galícia.
A nave do santuário é em formato de cruz  e dentro do santuário encontra-se um altar todo de ouro (com certeza vindo do Brasil na época da colonização) e nele um grande busto de Santiago e quem quiser bote subir uma escada por trás do altar e abraçá-lo e assim fizemos.  Consta também dentro do Santuário o sepulcro de Santiago (o apóstolo Thiago maior, filho de Zebedeu).
Após visitar o santuário, procuramos entre os muitos um restaurante adequado para almoçarmos. Escolhemos um muito bem decorado, arrumado com talheres de prata, louças e taças bonitas. Pedimos duas paelha (parrilla) para nós cinco num valor muito em conta, muito bem servida (27 euros para duas pessoas) e muito gostosa.  Quando saímos do restaurante a rua, que antes estava cheia de pessoas,  depois estava deserta, com muitas lojas fechadas e um vento frio terrível, mesmo no sol. Ficamos sabendo então que era hora da sesta, os espanhóis tiram até ás 17 horas. Hora de procurar um hotel, havíamos selecionado três pela internet, mas demos diversas voltas de carro até encontrar um deles no sexto andar de um prédio da rua Fernando III (O Santo)  o "Hotel Rey Fernando". Pagamos 54 euros num quarto para três e 38 euros em outro quarto para casal, portanto um hotel simples, sem café da manhã, mas barato e tudo muito limpo. Dormimos bem a noite toda, mas é bem verdade que durante a noite tivemos que abrir um pouco da janela, pois o aquecedor foi forte demais.
Pela manhã, antes de tomarmos café em uma pastelaria (padaria, pois as pastelaria não vendem pastéis e sim café, leite, bolos, doces e refeições rápidas), comemos no quarto uma torta de Santiago com a espada dele desenhada por cima e tudo. Na padaria eu e minha irmã pedimos chocolate, delicioso e forte foi preciso de mais leite para ralear. Dalí nova caminhada, agora no centro comercial de Santiago e depois a estrada de volta, não mais pela auto estrada e sim por dentro, passando pelas cidades e percorrendo (mesmo que de carro) um dos caminhos de Santiago de Compostela, na estrada vê-se as placas indicando o caminho e descemos para fotografar. A primeira cidade que paramos foi  "Ponte de Vedras", onde se vê no rio Lérez várias pontes e muitas criações de mexilhões. Almoçamos uma nova  paelha, esta ainda mais sortida, num restaurante chamado "Casa Digna" próximo ao cais. Tiramos fotos e dalí seguimos em direção a "Tui" (cidade de divisa entre Espanha e Portugal) onde demos uma volta de carro e paramos para colocar mais um pouco de óleo diesel (mais barato alguns centavos que Portugal) e também comprar caramelos e chocolates. Davide comprou dois sacos de mexilhões, que aprontou logo que chegou em casa. Pegamos outra estrada passando pela antiga alfândega, antes da formação da União Européia, todos eram parados antes de entrar nos países, atualmente os carros só são parados no caso de alguma blitz especial, mas normalmente passa direto. Entramos na primeira cidade de Portugal, "Valença", já estava escuro e chovendo, mas mesmo assim subimos até um forte e encontramos uma visão muito bonita: depois de uma muralha havia uma verdadeira cidade de pedra, com igreja, ruas estreitas, bares e lojas. Realmente lindo! Fiquei com vontade de voltar outro dia com calma e sentir melhor o clima do local. 
Chegamos em Famalicão por volta das 10 horas e logo comemos bolinhos de bacalhau, bistecas e feijão fradinho em salada, cada dia uma delícia nova. Já, já chegou a hora de dormir. 

ANIVERSÁRIO COM ROJÕES E  ARROZ  DE  MARISCOS

No dia do aniversário da Luciana preferimos não sair de Famalicão. Estava chovendo e já no café da manhã Davide improvisou uma vela do natal para cantarmos parabéns.  Após o café fomos a feira, aliás em todas as cidades por aqui as feiras são imensas e de visitas obrigatórias para quem quer conhecer o costume do lugar. Vendem de tudo, roupas, calçados, frutas, legumes, panelas, condimentos, presunto (pernil defumado inteiro ou em fatias), chouriços ou salpicões (lingüiças finas ou grossas cheias de carnes defumadas), entre outros. Muitas barracas das feiras são administradas por ciganos. 
Chegando da feira o almoço já estava praticamente pronto com os famosos rojões ( cozidos de pedaços  carne de porco, toucinho de javali para dar o sabor, tripas - recheadas de farinha e milho, cominho e pimenta, grelos - erva parente da couve), bucho e castanhas portuguesas, assadas e depois cozidas, tudo junto na mesma panela) e também arroz de mariscos frescos (arroz com bastante caldo com camarões, lula, mexilhões e cani - aqui conhecido como delícias do mar. Tudo isto regado ao vinho da região, que é sempre presente em toda refeição. Não é preciso dizer o quanto estava delicioso e o quanto comemos. Como sobremesa dona Iracema trouxe um bolo de chocolate com uma plaquinha de parabéns e velas. Cantamos novamente os parabéns, desta vez acompanhada pela versão portuguesa na voz de dona Iracema que deu de presente a Luciana um jogo de lençóis bordados. 
Posteriormente ao almoço fomos passear no comércio de Famalicão,  aproveitamos para revelar algumas fotos na máquina em um supermercado. Voltamos e Davide fez uma "punheta" de bacalhau, não se assustem! Este nome é dado ao prato de bacalhau cru desfiado com cortes de cebola, regado a bastante azeite e fica muito bom, uma dica para tirar a acidez é lavar a cebola com azeite e sal. Comemos também o que ficou dos rojões e arroz de mariscos e fomos dormir. Luciana estava feliz também por ver tantos comentários sobre seu dia no facebook.

UMA LENDA QUE IMORTALIZOU UM GALO 
Após o café da manhã, não tão cedo assim, saímos para visitar Barcelos, cidade que fica a 24,3km de Vila Nova de Famalicão. No caminho paramos na localidade de Nossa Senhora do Carmo onde existe um santuário e tem uma fonte, onde a família de Davide pega a água para beber. 

Barcelos é uma freguesia com perto de 20 mil habitantes, o município por inteiro possui 89 freguesias com um total de 120 mil habitantes e  recebeu  de D.Afonso Henriques o título de foral em 1177. 
Chegamos na cidade com chuva fina, então aproveitamos para ir a feira. Além de tudo que existe em todas as feiras portuguesas, em Barcelos, que é considerada a capital  do artesanato ( cerâmica, madeira, metal e bordados) encontramos também muitos deles, especialmente, como era de se esperar o "Galo de Barcelos" de todos os tamanhos.  Conta a lenda que os habitantes andavam alarmados com um crime e por não descobrir quem era o criminoso. Apareceu um dia um galego que se tornou suspeito. As autoridades resolveram prendê-lo e, mesmo com jurando  inocência, ninguém acreditou. Ninguém acreditava também que o galego se dirigia a Santiago de Compostela para cumprir uma promessa,  por isso, foi condenado à forca. 
Antes de ser enforcado, pediu que o levassem à presença do juiz, assim fizeram e nesse momento o juiz se banqueteava com alguns amigos. O galego voltou a afirmar a sua inocência e como ninguém acreditasse, apontou para um galo assado que estava sobre a mesa e exclamou:
 - É tão certo eu ser inocente, como é certo esse galo cantar quando me enforcarem. 
Saindo do museu fomos de carrinha até Valinho, uma vila muito bonita onde moravam os pastorinhos e onde apareceu o anjo para anunciar a eles a aparição de Nossa Senhora. O local ainda conserva o ambiente da época. Visitamos primeiro a casa onde moravam os irmãos Francisco e Jacinta, suas  camas, a cozinha e o muro onde os três tiraram a tradicional foto após a aparição. Seguimos caminhando mais a frente e chegamos a casa da Lúcia, que me pareceu uma casa mais estruturada com um grande quintal onde as crianças brincavam. Dá para percorrer entre as figueiras, observar as ovelhas num cercado e ir até o poço onde apareceu o anjo e que agora possui imagens do anjo e dos pastorinhos ajoelhados de onde irmã Lúcia escreveu: " À volta (de Ourém), corri ao poço e lá estavam os dois, de joelhos a rezar". Compramos algumas lembranças nas lojinhas do local, entramos no carro e seguimos nosso caminho a procura da neve.
Houve muitas risadas, mas pelo sim e pelo não, ninguém tocou no galo. O que parecia impossível, tornou-se realidade. Quando o enforcaram o galo assado ergueu-se na mesa e cantou. O juiz correu até a forca e com espanto viu o homem de corda ao pescoço, mas o nó lasso, impedindo o estrangulamento. Imediatamente o soltou  e foi mandado embora em  paz.  Por isto o galo virou um símbolo de Barcelos e é encontrado de grandes tamanhos de todas as cores em toda a cidade compondo a paisagem. 

Após comprarmos  alguns galos pequenos como lembranças a amigos e amigas do Brasil fomos almoçar numa pastelaria, pzzaria "Cristo Rei" onde pedimos uma salada de atum e uma pizza Cristo Rei especial com recheio de fiambre (presunto), queijo, cogumelos e ananás ( ela vem com uma camada de massa, recheio, outra camada de massa e outro recheio).  Saindo dalí andamos pelo centro histórico e visitamos a matriz de Santa Maria. Havia muita gente andando pelas ruas e nunca vi tantos homens juntos por metro quadrado. Estavam todos em pé conversando próximos a matriz, Davide disse que eram lavradores que em dia de feira vêem para a cidade fazer negócio e ficam ali conversando com os amigos. Ao lado da matriz, mais acima um pouco está uma ruína de um castelo com um espaço gramado, onde há um cruzeiro e um pelourinho e dá prá ver embaixo o rio Cávado e divide de um lado Barcelos e de outro Barcelinhos. Voltamos para a frente da matriz onde em cadeiras do lado de fora de uma pastelaria tomamos café e chocolate enquanto observávamos o sol refletindo nas torres da igreja e indo escondendo e anoitecendo, bem devagar...
Chegamos em casa já por volta das 21 horas e dona Iracema logo serviu o jantar com bistecas de vitela enormes com refogado de coração (parecido com repolho, mas em formato de coração), sempre tudo muito gostoso.  Mesmo com o frio, eu e Chiquinha  resolvemos dar uma caminhada no quintal para fazer um pouco a digestão antes de dormir.

FÁTIMA, CAPITAL DA FÉ 
Pela manhã saímos para conhecer Fátima, cidade símbolo de fé, pois em maio de 1917, três crianças pastores (Jacinta, Francisco e Lúcia) tiveram a visão de um anjo e depois de uma santa que ao ser perguntada sobre seu nome disse ser a Senhora do Rosário, hoje conhecida e devotada como Nossa Senhora de Fátima, reconhecida por muitos milagres. Desta vez nossa viagem teve a companhia de dona Iracema e seu Elídio e a carrinha foi abarrotada. No trajeto, á beira da estrada paramos em uma área de serviço na cidade de Antuã para um café e irmos ao  banheiro, existem áreas de serviço com posto de combustível e restaurantes a cada 20 km e na estrada existem sempre placas com os preços dos diversos tipos de abastecimento dos próximos três 
postos.

Em Fátima estava serenando,  olhando de cima já se vê a chamada "Cova da Iria", a grande esplanada. Ao fundo está a Basílica, no meio a capelinha feita a pedido de Nossa Senhora e funciona a sacristia de uma capela maior, ao lado os espaços para ascender as velas, acima a igreja nova de arquitetura moderna em homenagem Santíssima Trindade e ao seu lado uma grande cruz, acho que é a maior que já vi.
Passamos na capela e assistimos uma missa, o padre, alto, magro e de cabelos claros falava um português bem brasileiro, achei que ele era um estrangeiro que aprendeu a falar português no Brasil. Como o costume, fomos comprar velas para ascender e rezar cada um os seus pedidos para si, amigos e parentes. Acendi duas velas e rezei para que Deus me dê sempre sabedoria para saber quais são os Seus caminhos na atividade política. Rezei também pelos meus parentes, amigos, assessores, o povo brasileiro e os povos que estão sofrendo com a crise, principalmente os mais pobres. Não tem ninguém para vender as velas, você mesmo pega e paga. 
Combinamos que deveríamos procurar um hotel, almoçar e depois voltar para conhecermos o restante, assim foi feito. Encontramos um hotel chamado Recinto, bem próximo das igrejas e das muitas lojas que vendem lembrancinhas e  santos de todos os tamanhos (em cada loja que passamos, não só em Fátima, todos lembravam de procurara imagem de Santo Ambrósio - protetor dos apicultores, a pedido do Edson - amigo antigo, assessor e apicultor (foi muito difícil, pois quando encontramos era grande, muito caro e difícil de trazer na bagagem). O hotel era simples, mas bom e barato, pagamos 25 euros pelo casal e 37 euros para três pessoas com direito a café da manhã. Tinha também um restaurante aberto ao público onde almoçamos um bacalhau delicioso a moda da casa, frito com cebolas. Alguns pediram de entrada sopa de legumes, eu preferi esperar o bacalhau. 
Depois do almoço voltamos a  Basílica de Nossa Senhora de Fátima, havia uma missa terminando, esperamos um pouco para depois visitarmos os túmulos dos três pastorinhos.  Andamos até o outro lado para visitar a igreja nova, a nave é um salão enorme com 900 poltronas estofadas como um grande teatro e na parede atrás do altar um painel dourado (não sei se folheado a ouro) com uma enorme imagem estilo moderno de Jesus crucificado (minha sobrinha disse que o Jesus  tem a cara dos portugueses).  Por todo lado existem placas escritas que aquele é um lugar de oração, mas dentro da igreja seu Elídio em um cantinho, achando que ninguém iria escutar, resolveu telefonar ao filho Joca, mas o eco fez todos escutarem: "vai a casa! A chave está no vaso preto perto da porta!", todos rimos por um bom tempo disto. 
Voltamos  ao hotel para ver como estava a minha irmã que pegou uma gripe forte e tinha ficado na cama. Levei aspirina "C" e Chiquinha comprou café, ela estava melhor, mas preferiu continuar no hotel, assim como seu Elídio. Eu e os demais voltamos a olhar o comércio, a comprar lembrancinhas e a procurar a imagem de Santo Ambrósio, em vão.  
A noite chegou rápido e procuramos um outro restaurante para variar um pouco, inclusive porque o do nosso hotel já tinha fechado ás 20 horas. Encontramos um  que ficava num outro hotel abaixo do nosso, mas não demos sorte, a sopa era rala e o bitoque (prato com arroz, batata-frita, salada, bife e ovo) estava com o arroz muito papado. Voltamos para o hotel Recinto, eram perto das 22 horas, as ruas estavam totalmente desertas, serenava um pouco e eu e dona Iracema começamos a cantar músicas portuguesas, algumas eu conhecia, mesmo que aos pedaços. Foi muito legal. 

A noite foi boa para todos dormirem a vontade e após o café da manhã fomos a pé ver os museus de cera. No primeiro, que conta a história da aparição e  milagre de Fátima, todos entramos. É impressionante reviver toda a história e com certeza, até os mais descrentes, ao visitarem Fátima saem acreditando, pois se fosse uma coisa inventada e incorporada e aproveitada pelos adultos, as crianças não resistiriam a tantas pressões para confessar que era mentira.  Eram três crianças e com a pressão da família, da igreja e do Estado, com certeza pelo menos uma diria que não era verdade.  A história da morte de Jacinta e Francisco tão cedo e a morte tantos anos depois daquela que se tornou irmã Lúcia e que contava e confirmava detalhes de toda a história é a meu ver outra prova da verdade. Percorremos mais a frente no segundo museu de cera, o único do mundo que conta a história da vida de Jesus. Neste entramos eu e Chiquinha. Ainda mais emocionante o museu contém não apenas quadros das passagens da vida de Jesus, mas todo um cenário por onde caminhamos com música, vento, água, desde a anunciação do anjo Gabriel a Maria, até a ressurreição. Impressionou-me especialmente o batismo e Jesus andando sobre a água.

PELA PRIMEIRA VEZ A NEVE
Subimos com destino a Serra da Estrela, onde Broto, Luciana, Chiquinha e eu ansiávamos para ver a neve pela primeira vez. O tempo estava nublado e de tempos em tempos caia uma chuvinha fina e fria, em tempos menores saia uma aragem de sol fraca, mas a meteorologia previa neve, então aumentava a nossa esperança.
Antes de subirmos a serra paramos em Batalha, onde nos deparamos com um castelo esplendoroso e ficamos todos maravilhados. O castelo, que é na verdade um mosteiro, foi construído por  D. João I de Portugal em agradecimento pela vitória na Batalha de Aljubarrota,  conforme pesquisei na internet "iniciou em agosto de 1385 entre tropas portuguesas com aliados ingleses, comandadas por D. João I de Portugal e o seu condestável D. Nuno Álvares Pereira, e o exército castelhano e seus aliados liderados por D. João I de Castela. A batalha deu-se no campo de São Jorge, nas imediações da vila de Aljubarrota, entre as localidades de Leiria e Alcobaça, no centro de Portugal. O resultado foi uma derrota definitiva dos castelhanos, o fim da crise de 1383-1385 e a consolidação de D. João I, Mestre de Avis, como rei de Portugal, o primeiro da Dinastia de Avis. A aliança Luso-Britânica saiu reforçada desta batalha e seria selada um ano depois, com a assinatura do Tratado de Windsor e o casamento do rei D. João I com D. Filipa de Lencastre".  Não conseguimos seguir a visita por dentro do mosteiro, pois já estava fechando, mas ficamos na  praça fotografando o castelo e um grande estátua do Condestável D. Nuno Álvares Pereira com seu cavalo, tentando registrar toda a beleza, mas embora esforçássemos não conseguimos. É muito mais que a fotografia consegue registrar. 
Continuando para a serra paramos num posto de serviço para banheiro e lanche que chamava "Penacova", isto mesmo! Comemos o que chamam de sanches de leitão (sanduíche com carne de porco), embora bem apimentado estava gostoso e tomamos vinho. Paramos nossa viagem numa cidade  chamada Seia (com "S" mesmo), onde pernoitamos. Encontramos um hotel de três estrelas, mas bem estruturado, do grupo "Eurosol" chamado Camelo onde pagamos 45 euros por casal e 56 euros para três pessoas, com café da manhã, que aqui é chamado de pequeno almoço. Mesmo depois dos flandes de leitão a maioria preferiu procurar algum lugar para alimentar, encontramos um café e eu comprei para levar um croissant recheada com fiambre e uma coca-cola, que acabei comendo mais tarde no quarto.
Depois do pequeno almoço seguimos viagem para a Serra da Estrela,  no hotel o recepcionista disse que já tinha muita neve e que a estrada estava fechada, mas que já estavam reabrindo.  A estrada era asfaltada, estreita e de muitas curvas com pedras e pinheiros pelos dois lados, mas sem vestígio de neve. Depois de uns quinze minutos de carro,  no entanto começaram alguns sinais e daí a pouco tudo branquinho, lindo! Pulamos de alegria dentro do carro e aos gritinhos falamos todos: ali, ali! Davide parou o carro e fomos tocar, tirar fotos, sentir o que era aquilo que nunca havíamos visto. Depois de algum tempo, entramos no carro e percorremos mais um pouco, quando vimos tudo parado, a estrada estava mesmo fechada e muitos desceram para brincar na neve, assim nós também fizemos. Passados uns dez minutos o guarda avisou que já podíamos ir, subimos até a torre onde aí sim não dava para ver nada além do branco. O vento também era muito forte, quase nos levava e nevava, nevava! Saímos todos empacotados com os chamados "kispos"(casacos de nylon compridos e acolchoados). Cambaleando de tanto vento e entramos num centro comercial.  Lá dentro existiam vários comércios vendendo presuntos, chouriços, queijos, bebidas, roupas de lá e de couro e lembrancinhas da serra. Conhecemos a área e voltamos para o lado de fora para andar e brincar um pouco mais na neve, mas vira e mexe tínhamos que correr para dentro do carro, pois o vento era forte demais e nem as roupas e sapatos com muitas meias segurava tanto o frio. Antes de descermos a serra, ainda paramos  na casa do lago que vende também "enchidos" (embutidos) e as mesmas coisas da torre e tem uma grande lagoa para o abastecimento. Fiquei com pena, por não saber quando iria ver a neve novamente, mas tínhamos que voltar e assim fizemos. Descemos direto até chegarmos ao restaurante "Netinha dos Leilões" na cidade de "Mealhada", que é reconhecida como a cidade dos leitões, em toda a estrada tem muitos restaurantes com placas escritas "temos leitões". Nenhum de nós, no entanto, comemos leitões. Davide pediu  medalhão ao chefe para ele e Luciana, olhando o cardápio pedimos costelinhas de vitela com batatas e migas (salada de grelos com feijão frade), quem olhou a palavra no diminutivo não imaginava o pedaço enorme de carne mal passada que não conseguimos dar conta, nem mesmo de toda a batata. Chegamos  em Famalicão já por volta das 22 horas e um cansaço muito gostoso de quem viveu dias maravilhosos.  

EM BRAGA COM NEBLINA E CHUVA 
A manhã da segunda correu mais preguiçosa para descansar de tanta aventura do final de semana anterior. Após o almoço, onde comemos bacalhau à chuva (faz junto com purê de batatas), mas tinha sol, então fomos a uma loja de informática e compramos um pendrive para Chiquinha esvaziar a memória da máquina fotográfica que já estava abarrotada. Seguimos para Braga diretamente para a Igreja do Bom Jesus, mais uma igreja muito bonita, com um jardim muito bem cuidado de onde  se vê parte da cidade. Tiramos algumas fotos, mas  neste momento o tempo
já nublava um pouco, então  subimos rapidamente para o mosteiro Sameiro, Davide e Luciana subiram de carro, eu, Chiquinha e o Broto fomos de trenzinho tipo o do Corcovado, mas num trecho menor e movido a água. Ao chegarmos a visão já não era possível, pois a neblina tomava conta de todo o espaço. Uma chuva fria fez com que corrêssemos para a igreja, onde já havia uma missa, ficou a promessa de uma outra visita, pois o Broto e a Luciana já tinham visitado o local antes da minha chegada e disseram que é muito bonito.
No centro da cidade havia vento e vez ou outra uma chuvinha fininha, mas suportável, então andamos pelo centro de Braga. Adorei ver aquelas ruas estreitas com casas antigas e muitas lojas abertas. Paramos em um "Café Brasileira", era este o nome do estabelecimento e tinha o jeito da Cafetaria Colombo no Rio, embora menor. Eu e minha irmã pedimos um chocolate quente e Luciana e Chiquinha tomaram capuccino, Davide saiu para cambiar alguns reais em euros. Compreendi que para tomar chocolate com leite tem que pedir achocolatado, o chocolate quente vem como um creme bem forte que desce aquecendo até a alma, pedi então um pouco de leite e fui colocando no chocolate, isto rendeu até. Continuamos descendo aquelas ruas e Luciana parou numa perfumaria "equivalenza" (o aroma é o mesmo, mas os preços bem menores) para comprar perfumes para a Juliana, minha outra sobrinha que ficou em Cataguases -MG. Enquanto ela escolhia os perfumes, fui com Chiquinha e minha irmã andando até a porta de entrada de Bragam, tiramos fotos e depois voltamos até a Sé de Braga, de fora era linda, mas infelizmente estava fechada. No entorno encontramos uma ainda aberta com um vendedor muito simpático, que parecia ser também o dono e nos vendeu algumas lembranças a mais.  Voltamos a pé até ao restaurante Cristo Rei e experimentamos  "francesinha", é um tipo de sanduíche no prato com pão, bife, fiambre, queijo e um molho a base de katchup e mostarda (dizem que é prato típico do Porto), o Broto preferiu o que chamam de "prego no prato" (arroz,salada, ovo e bife), pedi uma dose de licor Beirão para esquentar um pouco, gostei muito deste licor, vou levar uma garrafa quando voltar para o Brasil.  Andamos novamente para o carro e voltamos para Famalicão. 

GUIMARÃES E FAFE
Já era final da feira quando chegamos para comprar uma mala grande para levar as compras feitas por Davide e Luciana, que todo dia falavam em  comprar e já estava virando piada. Nosso destino: Guimarães (onde nasceu Portugal) e Fafe (onde reencontrarei um amigo antigo), mas antes, ainda em Famalicão paramos para visitar a "Casa de Camilo Castelo Branco", escritor
português que escreveu os livros "Amor de Perdição" e "Amor de Salvação", entre outros. Foi casado com uma brasileira e depois teve um grande e proibido amor com a também escritora Ana Plácido, que também era casada. Após o falecimento do marido de Ana, Camilo veio morar com a amada durante 27 anos nesta casa, onde teve filhos, ficou cego, pobre e suicidou-se, "Se a alma do suicida pudesse subir à presença de Deus, a Divina Majestade esconderia a face envergonhada ou condoída da sua obra, por que o suicida lhe diria como Jobim: por que me tiraste do ventre materno?", escreveu. Entramos na casa olhamos e fotografamos tudo, a escrivaninha e a biblioteca, a sala, o fogão, os quartos, o banheiro a cadeira de balanço do suicídio, como também o jardim. Professora de português, Luciana comprou um DVD com vários intelectuais  falando de Camilo e também cartas de baralho com sua caricatura. No jardim pegamos algumas laranjas de um pé carregadinho, aliás em todos os quintais, jardins e até nas ruas de Famalicão há sempre laranjeiras, que neste tempo estão carregadas de laranjas, todas amarelas No mesmo tom. Nos jardins também sempre encontra-se plantações de couve e de uvas e as áreas maiores, mesmo em outras cidades,  são cobertas de pastagens verdes para gado, cabras ou ovelhas.

   

Em Guimarães paramos no "Castelo dos Duques de Bragança".  Na entrada existe um monumento à D. Afonso Henriques e duas placas brasileiras, uma do Presidente militar Emílio Garratazu Medici e outra do Presidente José Sarney " homenagem do povo brasileiro a Dom Afonso Henriques ao criador da nação portuguesa", diziam as inscrições. Subimos a pé mais um pouco e chegamos a porta do castelo, eu, Luciana e Chiquinha resolvemos pagar 5 euros para visitá-lo. Construído no início do século XV, por D. Afonso, primeiro Duque de Bragança, foi adaptado a museu e a residência oficial do Presidente da República em meados do século XX. Dentro pode ser observado a arquitetura de estilo medieval,  móveis, louças, lustres e tapeçarias de origem especialmente francesa e chinesa. No entorno do castelo há um grande jardim com muitas oliveiras e mais acima um outro castelo em ruína, que também visitamos e fizemos fotos. Foi neste dia que aprendi a tirar fotos panorâmica na máquina fotográfica da Chiquinha e fiz a festa, a partir dalí só tirava fotos panorâmicas para retratar melhor todo contexto local, que uma foto comum não registra, inclusive fazendo com que uma pessoa apareça na mesma foto duas vezes, todos riam por eu fazer isto, mas aproveitavam da tecnologia. É bem verdade que em algumas fotos fiz a transição rápida de mais e cortou algumas cabeças, corpo, carros e jardins, mas na grande maioria ficou ótima, ficou sim.  
Na saída do Castelo, uma surpresa desagradável, Davide estacionou o carro e não viu que tinha parquímetro, fomos conhecer o centro e procurar  um lugar para pagar a multa de 7,50 euros, mas não conseguimos por não termos o cartão do banco, ficou para pagar em Famalicão. Paramos mais uma vez para almoçar no restaurante e pastelaria "Santo Cristo".  No centro de Guimarães muito legal ver e fotografar as casas antigas a compor o cenário da praça e uma muralha com a escrição: "Aqui começa Portugal".
Deixamos Guimarães com uma chuva fininha, um gosto de quero mais e partimos para Fafe. No centro da cidade a praça 25 de Abril com um chafariz, várias lojas com comércio em geral e no subsolo do Edifício Shopping  o ateliê do JJSilva, um ex padre de Barra Mansa, inclusive da minha paróquia na época que eu era catequista. Já naquela época ele gostava muito de cantar, tocar violão e de pintar quadros, me lembro muito bem principalmente das lindas celebrações onde ele, além de celebrar, pegava o violão e cantava as suas canções que sempre questionava a sociedade.  Desde 1996 ele voltou para a cidade onde nasceu, tem trabalhando como artista plástico e membro de uma associação de artistas locais "Atriumemória".  Foi muito bom encontrá-lo, vê-lo animado com muitos sonhos e projetos "minha cabeça não pára, gira, gira sempre pensando em um novo projeto", disse. Conversamos sobre os bons tempos, falei dos amigos comuns e cantamos juntos uma canção de sua autoria "Não fique triste meu povo não, há de chegar a libertação. Não durma não, acorde sim, desperte gente com a força na mão...". Depois de me presentear e a com um artesanato retratando a justiça de Fafe (um homem com um porrete na mão ameaçando bater num rico - fato que virou lenda e marcou o local), fomos embora. 
Dias depois recebi recebi um e-mail do Silva sobre uma matéria que ele divulgou no jornal: "Pandeló visita Fafe". 


JANTAR EM TROFA E VOLTA A PÓVOA DO VAZIM
A manhã já começou com chuva e nós só saímos para ir a feira de Famalicão. 
Dias atrás um amigo do Davide veio com o filho até a sua casa e nos convidou para jantar em Trofa, um município próximo de Famalicão. O Jantar foi marcado para esta noite, nos aprontamos todos para enfrentar o frio e fomos encontrá-los no Restaurante "Flor do Ave (nome do rio)".  As mulheres comeram bacalhau assado com batatas e beberam espumante,  os homens comeram Leitão com saladas  e beberam vinho tinnto. De  entrada foi servido melão, muito doce com presunto local. O amigo de Davide chamado Silvério é um senhor falante, empresário da construção civil, conhece  o Brasil e quer comprar uma casa em Fortaleza e seu filho Michel, um espectador assíduo da Rede Record é um apaixonado pelo nosso país e ficou o tempo todo falando sobre o Brasil com minha irmã, Luciana, Davide e Chiquinha, aliás as novelas brasileiras são muito assistidas em Portugal. Quando estávamos lá estava passando "Páginas da Vida", "Fina Estampa", Avenida Brasil, uma regravação de Dancin Days com atores portugueses e os últimos capítulos de Gabriela.  Para o jantar eles convidaram  um amigo chamado Sanches, empresário no ramo de farmácia, tem uma casa em Fortaleza, visto permanente e já abriu processo para adquirir dupla cidadania. Os dois enalteceram o governo Lula e Dilma e sabem que é um bom negócio investir no Brasil num rendimento a 11% ao ano, pois segundo eles, em Portugal, mesmo fora da crise, não chega a 3,5%. O jantar foi muito gostoso e divertido.
Saímos do jantar prá  Póvoa do Vazim e fomos direto prá cama.
Pela manhã ainda chovia e da janela do apartamento dava prá ver o mar agitado e o vento soprando forte, mesmo assim, na esperança de ser uma chuva passageira como em outros dias, resolvemos manter o combinado e nos prepararmos para ir ao Porto.
Tomamos café e saímos de carrinha até a estação São Bento na Vila do Conde para pegar o metrô, já que o estacionamento da estação de Póvoa estava cheio. Descemos na estação de Trindade e pegamos outra linha para o Porto, a viagem durou uns 50 minutos no total e custou 3,20 euros a ída e 2,70 euros a volta (primeiro você compra o cartão depois só recarrega, por isto que fica mais cara a ida). Sempre gosto das estações ferroviárias e a estação da cidade do Porto também é linda com os tetos altos e trabalhados, as portas em arcos  e muitos azulejos pintados em azul retratando a história antiga da cidade. A chuva, no entanto não parou, o vento e o frio continuavam, corremos até  igreja, depois, também correndo atravessamos a praça e paramos num restaurante, experimentamos cada um uma francesinha para comprovar se realmente era a melhor do país e vimos que  tinha realmente mais ingredientes que a anterior. Pedi logo uma dose de vinho do Porto para tirar a friagem. Depois de comermos, descemos a rua em direção a Ribeira, a passagem estava difícil pela chuva, mas também pelas obras em todo o trajeto e na placa dizia que o objetivo era a construção de calçadas largas, urbanização e novos estacionamentos.  Passeamos e tiramos fotos pelas margens lindas do rio Douro com seus barcos ancorados, os bares com paredes de vidro para que ninguém deixe de olhar a paisagem, feliz até dancei de sombrinha lembrando Fred Ester no filme "Dançando na chuva", mas infelizmente não conseguimos suportar o vento e corremos para dentro de um dos bares para nos esquentar com café, capuccino e chocolate. Subimos novamente todo o percurso á pé até a rodoviária e voltamos para Póvoa, sentindo muita pena por não ter podido andar e conhecer esta importante cidade, com suas adegas que ficavam do outro lado do rio.  Paramos novamente na Casa do Frango para jantar e fomos para o apartamento dormir.

No outro dia a chuva continuava e as ondas estouravam com força. Após o café descemos para voltar prá casa, mas ao chegar no carro o limpador de para-brisa não funcionava, Davide seguiu dirigindo e limpando manualmente o vidro por dentro e por fora, até que foi informado onde teria uma oficina. Ficamos numa loja chinesa até que ele achasse a tal mecânica, mas voltou dizendo que o cara da oficina disse que era problema do motor e que teria que desmontar para consertar. Foi aí que resolvemos ligar para o Joca que deu a indicação para o conserto: basta dar uns ponta-pés abaixo do volante e tudo certo, simples assim, tudo certo.  Já passava das 15 horas quando paramos no Restaurante Touroegalo e comemos uma"parrilhada" (tipo churrasco misto) acompanhado com arroz, verdura e feijão preto, foi aí que vimos quanta saudade estávamos do feijão preto. O garson, casado com uma angolana criada no Brasil disse que adora feijoada e muito simpático sempre voltava a mesa perguntando se faltava alguma coisa e dizia ao sair: "continuação do bom proveito", uma graça. Voltamos numa boa para Vila Nova de Famalicão. 

UM SHOW COM GOSTO DE BRASIL 
A partir deste dia a chuva e o frio intensificaram. Na TV muitas matérias divulgam número de desabrigados, árvores caindo em cima dos carros, estufas acabadas perturbando a produção rural e a vida dos agricultores e neve por muitos países da Europa. Graças a Deus escolhemos os dias certos para viajar por aqui, pois até em Fátima e na Serra da Estrela aconteceram problemas. 
No sábado á tarde e noite, no entanto , a chuva deu uma trégua, embora ainda ventasse frio,  eu, Chiquinha e dona Iracema saímos para dar uma volta no bairro, existe uma parte com novas residências. Paramos num pequeno parquinho e dona Iracema desceu no escorregador, Chiquinha fez o mesmo, mas acabou caindo no final, rimos muito e continuamos a andar até a padaria, levamos pães e docinhos sortidos, nas padarias aqui se encontram muitos e deliciosos. 
 Um pouco mais tarde saímos para visitar o Joca e a Jija, mas não estavam em casa, pois levavam o Jojó ao catecismo, então fomos encontrá-los próximos a igreja, ficamos conversando alí esperando o Jojó e combinando sair a noite. Fomos de início ao restaurante "Marco", Joca queria que experimentássemos uma verdadeira francesinha e assim foi.  Pedimos uma francesinha para cada um regada a chopp para alguns e a vinho "Gazela" para outros. Eu, Broto e até a  Chiquinha (que pediu uma mini) não conseguimos chegar ao final de tão grande era a francesinha especial. Saímos dali e fomos a uma festa de São Sebastião em "Gondfiels"(localidade perto de Póvoa), organizada pelos jovens que fazem 20 anos a cada ano.


No local não existiam muitas barracas, mas um grande palco para o show do cantor "Zé Amaro", que faz muito sucesso em Portugal. Dançamos muito, especialmente dona  Iracema e Chiquinha, que não pararam o tempo todo. O cantor era muito carismático, comunicava bem e cantou músicas sertanejas, muitas  delas brasileiras, aliás a música sertaneja brasileira  faz muito sucesso por aqui, a Jija sabe cantar muitas e reconhece vários cantores. Vi na feira e ouvi no rádio do carro os CDS de Paula Fernandes, Luan Santana, Vítor e Léo, Gustavo Lima, entre outros. Fiquei de mandar prá ela o filme "Os Dois Filhos de Francisco", "Lula o Filho do Brasil" e o "Menino da Porteira". Após o show houve uma queima de fogos, lembrei que já era dia 20 de janeiro, da festa de São Sebastião de Barra Mansa e da sua grande procissão que participo todos os anos. Rezei agradecendo pela oportunidade desta viagem e pedi por todos nós, portugueses, brasileiros. Voltamos para Famalicão e fomos dormir satisfeitos, já passava das 3 da manhã.

Acordamos tarde preguiçosos, mas  dona Iracema já estava há muito de pé, tinha ido a missa antes de clarear e já pensava no que fazer para o almoço. Seu Elídio  e Davide saíram para comprar parte do almoço e logo depois chegaram Joca, Jija e Jojó. O almoço constou de um delicioso cozido a portuguesa de verduras e legumes com couve, repolho, cenouras e batatas e outro cozido com diversas partes do porco e do boi, acompanhado de arroz. É lógico que o tempo todo com estas comidas deliciosas temos que fazer esforço para não cometer o pecado da gula e não engordar, não sei dizer se consegui fugir destes perigos, acho que não. 

Depois do almoço fomos de carro num lugar próximo chamado Estela, onde há uma grande feira, caminhamos por ali, passamos no apartamento de Póvoa para irmos ao banheiro e voltamos a Famalicão. 


ESTÁ CHEGANDO A HORA



Na segunda-feira pela manhã o sol deu o ar da graça um pouquinho, mas logo a chuva voltou. Não saímos e alguns aproveitaram para começar a arrumar as malas. No almoço um saboroso bacalhau a Mendes Sá e a confirmação de um convite do Silva para um colóquio comigo sobre o Brasil de ontem, de hoje e as nossas formas de organização popular.  Depois do almoço saímos todos para comprar bacalhau, vinhos e azeite para levar ao Brasil e muitas preocupações com o peso da mala. Paramos numa churrasqueira e o seu Elídio comprou dois frangos assados para o jantar. Depois do jantar começaram os embrulhos das garrafas e vimos que necessitávamos de mais malas.

Na terça-feira pela manhã por três vezes aconteceram pancadas de chuva de granizo, rapidinho derretia e daqui a pouco outra. Antes do almoço saímos até uma quinta do bairro para conhecermos a madrinha do Joca e de Davide por consideração, dona Elídia e sua filha Maria João, onde visitamos também a adega onde eles produzem vinho com as uvas plantadas ali mesmo e que o seu Elídio trabalha na produção a cada ano. As duas já visitaram o Brasil e foram muito simpáticas.

De volta a casa almoçamos umas deliciosas coxas de peru e saímos para dar novas voltas em Famalicão e depois Braga onde chovia muito, mas conseguimos andar até a Sé e desta vez encontramos a igreja aberta. Majestosa, a Sé possui vários lutres muito bonitos, imagens na cor de cimento de diversos santos, os brasões de todas as freguesias em flâmulas pregadas  na parede, o altar principal e de cada lado os altares da Nossa Senhora da Rosa, Nossa Senhora do Sameiro, Sagrado Coração de Jesus e o Santíssimo todos em ouro. Saindo da Sé compramos mais algumas lembrancinhas e depois voltamos a pé até o sempre "Cristo Rei" onde comemos uma pizza família especial muito boa e é lógico que eu e o Broto pedimos duas doses de Licor Beirão para esquentar o corpo do frio, que só não ficou molhado porque ao sair eu não esqueço mais de levar o kispo que comprei para ir a Serra da Estrela. De volta a casa fui escrever este diário enquanto também dava umas olhadinhas para a TV  ligada, passou primeiro o jornal,  percebi que este tempo todo que estou em Portugal a TV portuguesa não traz notícia do Brasil, a única vez foi falando de uma cachorrinha que anda um grande trecho para levar comida para os filhotes. Sobre a crise a versão da TV é que os piores momentos passaram e que o mercado recupera e noto que as pessoas não gostam muito de falar sobre o assunto.  Por falar de cachorrinha tenho que falar da Nina, a cachorrinha da família sempre presente por aqui

DE VOLTA A  GUIMARÃES E A FAFE - COM SABOR BRASILEIRO
A chuva fina continuava a cair e o frio intensificava, melhor então ficar em casa pela manhã e descansar um pouco na grande sala com a lareira (ou lume) sempre aceso a aquecer a água e toda a casa. A hora do almoço para quem acordou ás 9:30 chega rápido e o cheiro do cozido à portuguesa com postas de peixes com legumes e verduras diversos já aguça a apetite (não resisto as variedades feitas pela dona Iracema!).  Após o almoço resolvi dar uma cochilada para revigorar as forças já que a noite prometia.
Por volta das 17 horas ainda chovia, mas nada  prende a gente, saímos então para darmos mais uma volta em Guimarães antes da palestra combinada em Fafe, dona Iracema também foi. 
Em Guimarães fomos conhecer, do outro lado de onde estivemos anteriormente,  a Igreja de Nossa Senhora das Oliveiras, logo na entrada levei o maior susto, pois acima da porta estavam vários homens restaurando o antigo órgão. Além de ser muito bonita a igreja toda de pedra compõe um conjunto arquitetônico, você passa por uma grande porta e vê construções muito antigas e alguns bares, mesmo com chuva mantiam suas cadeiras na calçada. Por todo o canto ouvia-se gritos de jovens que não dava para perceber bem o que diziam, mas Davide disse que eram estudantes a fazerem trotes aos novatos. Alguns vestidos como senhores mandavam os demais fazerem tarefas, parecendo aquela brincadeira de criança "boca de forno! Forno! Fazei tudo que o mestre mandar? Faremos todos! E se não fizer? Ganharemos um bolo! " (lembram? Pois é). Ficamos por instantes ali do lado de fora da igreja tirando fotos, tentando registrar em panorâmica toda a beleza do local e observando os jovens, de repente eles vieram até nós, cantaram uma canção romântica, fizeram um coração com as mãos, o que retribui da mesma forma, e foram continuar a brincadeira. Saímos andando pelas ruas antigas e eu olhando prá traz fiquei com uma vontade de voltar ali sem chuva, sentar numa cadeira daqueles bares, pedi um café, um vinho ou cerveja e ficar saboreando devagar a conversa e o clima do lugar. Chegamos mais uma vez ao "Cristo Rei" e jantamos.
Na estrada prá Fafe, com chuva e serração, já comentávamos que com aquele frio com certeza não apareceria muita gente para o encontro, mas o combinado seria cumprido. Chegamos na cidade cedo, procuramos a biblioteca,  estacionamos o carro e fomos procurar um café. No caminho encontramos com o Silva, meu amigo e um dos organizadores do evento, pareceu que ele também estava desanimado com a possibilidade de público, pois disse: "tá um tempo do caraça!". O café que tomamos foi na pastelaria Sãozinha (lembrei da minha irmã Conceição que tem o apelido de São), reconheci nas paredes os muitos quadros do JJSilva, na hora de pagar fiz questão de dizer a funcionária que a decoração era de muito bom gosto.
Voltamos a biblioteca, pois já era próximo ás 21:30, o horário marcado para iniciar e já encontramos algumas pessoas que organizavam o local. No saguão, onde tinha um grande painel com uma foto e a poesia de Florbela Espanca, fiquei conversando com Vereador da Cultura, Pompeu Miguel Martins e com o historiador Daniel Bastos, ambos já estiveram no Brasil e me falavam de como Fafe mantém relações culturais com o nosso país. Aos poucos foram chegando as pessoas, entre eles músicos com instrumentos e quando o encontro iniciou o auditório já tinha em torno de 50 pessoas (homens, mulheres, jovens adultos e idosos),  uma surpresa para todos nós pelo horário e o tempo super frio e chuvoso.

O evento foi uma iniciativa da associação  "Atriumemória" em parceria com o Atelier J.J. Silva e apoio do Município e Junta de Freguesia de Fafe. Para a mesa estava também o nosso amigo chamado por eles de professor JJSilva, o Vereador da Cultura, Pompeu Miguel Martins e  Carlos Afonso, Presidente da Assembléia Geral da Atriumemoria, que fez a moderação.  De início projetaram o filme "Fafe, marcas dos brasileiros de torna viagem”, que mostrou como a migração dos portugueses para o Brasil influenciou o crescimento de Fafe, sua arquitetura, literatura e cultura em geral. Todos falaram no mesmo sentido e de como ainda hoje se conserva esse relacionamento com diversas cidades brasileiras, inclusive tendo uma parte importante do museu dos migrantes de Fafe dedicado ao Brasil, um museu de Fafe em  Porto Seguro e intercâmbio entre artistas fafenses e brasileiros, que montam e encenam peças juntos todo ano. Na minha parte foi solicitado que eu falasse do Brasil de antes e de hoje e de como se deu o processo da mudança. Resumidamente falei das nossas organizações em comunidades de base, nos movimentos sociais, do nascimento do PT, de como o Silva ajudava na nossa conscientização com sua pintura, letra e música. De como éramos dependentes do FMI (que impõe hoje a mesma receita de recessão a Portugal) e que somente após o governo Lula e agora no governo Dilma estamos sentindo a construção da nossa independência com crescimento e distribuição de renda. O Silva a cada momento ficava empolgado recordando daquela época e dizendo que este tipo de organização pela base precisa ser realizado em Portugal para enfrentar o momento atual. 

Durante todo o colóquio aconteceram apresentações de poesias portuguesas e brasileiras  pelos senhores Augusto Lemos e António Leitão, com acompanhamento musical de J.J. Silva, César Silva e José Marques, enquanto  o senhor Jesus Martinho registrava tudo para o blog da entidade e para mandar para a imprensa. Os jovens irmãos Duarte e Diana Baptista, com voz e violão apresentaram várias músicas, entre elas uma do Silva, depois o próprio tocou e cantou e eu cantei junto o refrão, realmente muito bonito e emocionante. 

Ao final um senhor da platéia, que eu não lembro o nome, mas lembro bem o rosto, disse espontaneamente uma frase do Hino Nacional brasileiro para me homenagear, uma gracinha. De presente também recebi vários livros de diversos autores fafenses, uma bandeira, duas medalhas da Junta e da Câmara de Fafe e uma linda tela do JJSilva, que eu já tinha visto e gostado quando visitei o ateliê dele, não sei se ele notou.  Terminado o encontro fomos á pé novamente a "Pastelaria Sãozinha", acompanhados de várias pessoas entre elas a professora Maria José (que disse adorar tudo que é do Brasil e nos convidou para ir em sua casa, mas não tínhamos tempo)  e  um jovem professor, que tocou violão e me perguntou timidamente como faria para dar aulas no Brasil, já que como muitos ele também estava desempregado, anotei o e-mail para mandar a informação. O dono da pastelaria, que também tocou percussão no evento, Nos ofereceu café, chá ou capuccino (conforme o pedido de cada um) acompanhado  de um delicioso pão-de-ló, aliás a pastelaria possui certificação para a produção do bolo de nome parecido com o meu. Assunto teríamos para um bom papo a noite toda, mas já era uma hora da manhã de quinta e tínhamos uma viagem de uns 40 minutos pela frente. Nos despedimos entusiasmados e eu agradecida tive a certeza que não poderia ter voltado ao Brasil sem ter voltado a Fafe. 

O nevoeiro já tinha se dispersado, por isto a viagem de volta foi mais rápida do que a de ida. Chegamos em casa, olhamos novamente os livros, as medalhas, as telas e depois de comer um pedacinho de um "bolo rei" delicioso, que dona Iracema comprou em Guimarães, fomos para a cama, mas eu demorei bastante para dormir, pois a adrenalina estava a mil e não saia da minha cabeça aqueles momentos tão emocionantes. 

HORA DA PARTIDA
Acordei no horário de costume, mesmo sem dormir direito e novamente a novela da mala recomeçou, pois com tantos livros era necessário uma mala maior. Saímos e encontrei uma mala de tamanho médio em promoção, então resolvi comprar duas latas grandes de atum, já que tinha espaço e folga no peso. 
Voltamos a casa para o almoço e experimentamos um arroz de polvo extraordinário acompanhado de grelo refogado (procurei semente para plantar no Brasil, mas não achei) e vinho, é claro. Dona Iracema já avisava brincando: "pode comer a vontade que a noite é outro prato porque teremos visita!", a visita no caso não éramos nós e sim o Joca, a Jija e Jojó.
Depois do almoço eu e Chiquinha fomos reorganizar a mala quando o senhor Elídio que já tinha separado um vinho do Porto especial para trazer para o Tio Tonho, resolveu oferecer para o Edson uma garrafa de cachaça (bagaceira da  uva que ele mesmo produziu) e lá vai arrumar espaço para mais isto, sempre pensando que a balança da casa parecia meio esquisita, minha irmã nem dormia direito pensando nisto. 
A noite o restante da família chegou e Jija trouxe para mim, Luciana, Chiquinha e Broto presentes (chales e bonequinhas russas matriarkas), muito gentil.  O jantar, que já estava pronto foi servido: camarões cozidos, arroz, carne de vitela com batatas, costelinha de porco, não precisa dizer do sabor delicioso comum a todas as comidas feitas por dona Iracema no decorrer destes dias. Comemos e depois continuamos à mesa, bebendo vinho e conversando. Davide mostrava ao irmão o funcionamento do wireless que comprou para o Jojó, Joca mostrava na internet fotos do seu trabalho, instalação de celindros gigantes para o tratamento do esgoto, Luciana mostrava fotos do Davide mais magro quando se conheceram, eu via o valor de sítios, apartamentos, casas e passagens, estimulando e brincando sobre a ida deles para o Brasil. 
Entre essas e outras conversas o tempo passou,  já era 11:30 quando começamos a colocar as malas no carro para adiantar a saída para o aeroporto no outro dia. Digo começamos, mas quem colocou mesmo foi os homens, especialmente o Joca, pois as malas estavam muito pesadas e todos diziam que passavam dos 32  quilos permitidos por unidade. Enchemos a carrinha, duas malas no carro do seu Elídio e ainda faltavam as malas pequenas de mão, que foram no colo. Ficamos preocupados, mas não tinha como, o jeito era pesar no aeroporto e levar um saco para trazer de volta o que excedesse. Já era mais de 1 hora da manhã quando fomos deitar e ás 4:30 o Joca e a Jija já estavam de volta a casa  para nos acompanharmos ao aeroporto. Davide dirigiu a carrinha abarrotadas de malas e as outras (eu, Luciana, Broto, Chiquinha), Joca dirigia o carro com seu Elídio, dona Iracema, Jija e Jojó. Chegamos 5:35 no aeroporto, uma paradinha para as fotos com a família e a fila para pesar as malas, duas delas, a da Chiquinha e a do Broto passaram no peso, mas como haviam outras com menos pesadas, foi possível retirar de umas e colocar em outras, assim seu Elídio voltou com o saco que levou para eventuais sobras, vazio. Afinal a balança não estava tão doida assim (xiiii tô preocupada com o meu peso rsrsrsr!). 
Uma parada para um café, depois a despedida sempre dolorida, ainda mais para o seu Elídio e dona Iracema, que sentem com certeza muita falta do filho. Olhos cheios de água e lá vamos nós muito agradecidos pelo carinho e amizade. Do vidro, os que ficaram, acenavam com as mãos e mandavam beijos, correspondidos por nós, que passavam abaixo rumo ao embarque.
O avião saiu ás 8:15 com previsão de chegada ao Rio ás 16:30 horas. Neste momento estamos a 816 km por hora, a temperatura exterior é de 54º celcius negativos, nossa altitude é de 11887metros, estamos em mares brasileiros, perto de sobrevoar Fortaleza, são 12 horas e 44 minutos, nas cadeiras da frente estão o Broto, Luciana e Davide e eu atrás com a Chiquinha, é muito bom viajar, mas é ótimo voltar prá casa sabendo que tudo deu certo. 
Aproveito o tempo que resta da viagem para escrever as últimas palavras deste diário, esperando chegar bem ao Rio com a Graça de Deus para agora descansada e revigorada as energias, recomeçar a luta. Obrigada a todos e todas pelo carinho, obrigada meu Deus. Até a próxima! 

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