quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

MINHAS MAMÃES NOEIS

Escrita por mim em dezembro/07.

Lembro-me muito bem e até vejo as imagens, eu ainda era muito pequena, quatro a seis anos de idade talvez.
Lá em casa as coisas não andavam muito boas, sustentar as quatro crianças e as três moças solteiras era muito para uma dona de casa e um agricultor com um sítio arrendado. A mais velha já havia casado e seguido seu caminho, mas e as outras?
Não cabia outra alternativa. Necessário era que as meninas começassem a trabalhar fora para ajudar no sustento da casa, com certeza aceitar esta alternativa deve ter sido de doer para um homem rude e de cultura machista, que ouvia de seu pai a exclamação: “Coitado do Zé!” a cada nascimento de mais uma Maria na família. E assim a vida passou...
Quero, no entanto falar do eu mais trago na memória, as noites de natal. Lá em casa não havia ceia, e não me lembro haver missa do galo na comunidade mais próxima, o comércio fechava suas bem perto da meia noite do dia vinte e quatro de dezembro e minhas irmãs chegavam em casa bem tarde e muito, muito cansadas.
Eu, meus pais e meus irmãos já estávamos dormindo, mas eu ouvia a abertura da porta, os primeiros passos, as falas em cochicho. Ouvia os passos de mansinho chegando perto da minha cama e uma delas agachando para colocar debaixo da cama o meu presente, o mesmo gesto se repetia nas três camas seguintes e elas saiam como entraram, bem devagar... Eu abria os olhos, conferia olhando o embrulho debaixo da cama e voltava a dormir, sonhando com o meu mais novo presente que somente pelo formato deixava algumas pistas.
No dia seguinte acordava ansiosa e ia para a varanda da frente exibir e brincar com o meu mais novo presente podia ser uma boneca sem cabelos, algumas panelinhas, um fogãozinho, não importava tudo era maravilhoso.
Depois das 9 horas da manhã começavam a desfilar na rua principal de meu bairro muitas crianças com seus pais e seus presentes, era o natal da Cia. Industrial de Cataguases, muitos eram os brinquedos que coloriam a avenida, muitos até mais caros e maiores que o meu, mas eu não importava, tinha o meu presente e me sentia amada pelas minhas irmãs – Mamães Noeis.

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